Rio Grande do Sul, estado trotskista

Rio Grande do Sul, estado trotskista

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Se a última pesquisa do Ibope estiver certa, o que quase nunca acontece, O Rio Grande do Sul poderá ser considerado a meca mundial do trotskismo. Júlio Flores (PSTU) tem 4% das intenções de voto. Roberto Robaina (PSOL) chega a 2%. Juntos atingem incríveis 6%, o mesmo escore do pedetista Jairo Jorge. Como pode o russo Trotsky empatar em influência nos pampas gaúchos com Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e Alberto Pasqualini? Porto Alegre já era a capital mundial com o maior número de psicanalistas lacanianos por habitante.

Qual a relação entre esses dois aspectos? Não tenho a menor ideia. Deve existir certamente uma explicação escondida no inconsciente de cada um para esse duplo fenômeno. O Ibope ainda mostra José Ivo Sartori na liderança. Se na primeira eleição Sartori foi acusado de não apresentar programa de governo, agora, ao contrário, ele é bem claro: vai seguir o que vem fazendo. Em segundo lugar aparecem o tucano Eduardo Leite e o petista Miguel Rossetto. A hipótese de a esquerda ficar fora do segundo turno não está descartada. Um observador externo, depois de ouvir os discursos sobre interesse público, pode exclamar com paradoxal ingenuidade lúcida:

– Por que dois petistas ou dois esquerdistas do mesmo berço, Jairo Jorge e Miguel Rossetto, concorrem por partidos diferentes? Não seria melhor eles formarem uma única chapa que somasse e não dividisse?

Política é uma deliciosa mistura entre lógica de carreira individual, estratégia partidária e administração da coisa pública. Em 2016, os funcionários da prefeitura de Porto Alegre não quiseram votar, no segundo turno, em Sebastião Melo (PMDB). Ajudaram com isso a eleger aquele que já se anunciava como o pior adversário que poderiam encontrar, Nelson Marchezan Júnior. Um arrependido diz ter aprendido:

– No segundo turno, quando infelizmente não se tem o nosso candidato, se vota no menos pior para o interesse da gente.

Outro gato escaldado pretende se antecipar em tempos bicudos:

– Primeiro é preciso chegar ao segundo turno.

Segundo o Ibope, Lula lidera entre os gaúchos com 32%. Bolsonaro aparece em segundo lugar com 20%. Mas se Lula sai da corrida, como diz a piada por estar preso em outro compromisso, o capitão que promete tirar o Brasil da ONU comunista assume a dianteira com 23%. Conclusão: o eleitor é lulista. Não é petista. Em 1945, Eurico Gaspar Dutra só ganhou a eleição depois que o defenestrado Getúlio Vargas pronunciou o agora famoso “ele disse”. O que ele disse mesmo? Mandou votar em Dutra. Lula não terá o mesmo poder de transferência de votos? Não é só no Nordeste, se o Ibope não estiver mais uma vez errando, que Lula, mesmo encarcerado, seduz o eleitor. Por que mesmo? É bom responder.

Se balanços de governos e dados do IBGE não conseguirem explicar essa preferência, dada a subjetividade que caracteriza qualquer número, só um bom psicanalista talvez consiga ajudar o paciente, digo, o eleitor, a entender as suas escolhas. Será que os desembargadores do TRF-4 ficam aborrecidos? Somos um Estado cheio de mistérios. Bah!

     

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