Roberto Jefferson e o golpe

Roberto Jefferson e o golpe

Presidente nacional do PTB quer destituição dos onze ministros do STF

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      Presidente nacional do PTB, aliado de Jair Bolsonaro, Roberto Jefferson concedeu entrevista ao Esfera Pública, da Rádio Guaíba, na sexta-feira. Personagem incontornável do Centrão, famoso por ter denunciado o mensalão, que provocou o primeiro abalo na moral petista, condenado a sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, cumpriu pouco mais de um ano e voltou a ser protagonista de momentos constrangedores para uma democracia, como se exibir armado de fuzil pregando algo que, em linguagem direta, ainda se chama de golpe. Na entrevista para mim, Taline e Lucas Rivas, Jefferson defendeu novamente a destituição pelas Forças Armadas, a pedido do presidente da República, dos onze ministros do STF e sua troca por novos nomes.

      Para Jefferson, isso não seria golpe, mas a aplicação do famoso artigo 142 da Constituição Federal de 1988, que faria das Forças Armadas um poder moderador capaz de meter o pé na porta para garantir a lei e a ordem. A exposição pública desse tipo de ideias coloca o seu defensor nu na praça para avaliação. Uns aplaudem. Outros, reagem. Perguntado se não estaria defendendo um golpe, Jefferson sofismou. O STF estaria extrapolando suas atribuições e impedindo Bolsonaro de executar o programa conservador que o elegeu. Jefferson chamou de privada a reunião do ministério na qual o ministro da educação, o agora silencioso Abraham Weintraub, clamou pela prisão dos “vagabundos” do STF. Qualquer um sabe que uma reunião ministerial pode ser sigilosa, mas não é privada. Políticos calejados adoram torcer as palavras.

      Foi uma das entrevistas mais arrepiantes que já fiz. Nunca tinha ouvido um presidente de partido, com poder de articulação e potencial de ajudar a impedir o impeachment do presidente da República com os votos, em troca de cargos, da sua turma, sustentar com entusiasmo uma virada de mesa institucional fazendo de conta que se trata de algo previsto na Carta Magna. Só uma leitura muito heterodoxa do artigo 142 da CF pode levar a crer que há ali uma autorização para que as Forças Armadas se sobreponham ao Supremo Tribunal Federal. Para bons entendedores, meia pregação golpista basta. Jefferson declarou que sentirá orgulho de ser preso por ordem dos ministros que ataca. Claro que se trata de bazófia. Se a ruptura institucional acontecer, depois dos avisos de Eduardo e Jair Bolsonaro, não se poderá alegar que foi por falta de alerta. No Esfera Pública, Roberto Jefferson cantou a pedra em prosa e verso com a desenvoltura de quem nada constrange.

      No bloco anterior ao da entrevista com Roberto Jefferson, o ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff, Eugênio Aragão, havia criticado severamente a ideia de que alguém pode descumprir ordens judiciais. Muitas regras precisam mudar no Brasil. Um Procurador-Geral da República não pode saltar do seu cargo para o de ministro do STF. Essa possibilidade faz com que o presidente da República possa neutralizar z autoridade com poder de denunciá-lo com a promessa de uma vaga no paraíso. Roberto Jefferson deu uma aula de golpismo desavergonhado.


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