Ser feliz em 2020

Ser feliz em 2020

Roteiro para viver melhor

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Fui feliz em 2019.

Mas não fiz tudo que deveria ou como deveria.

Fui a poucos jogos do Internacional no Beira-Rio em companhia do meu velho amigo Celso Dias. Caminhei pouco na Redenção junto com a Cláudia. Só estive duas em vezes em Palomas. Não molhei minhas mãos nas águas da lagoa da minha infância. Dei pouco abraços. Fiquei menos sorridente. Bati pouco papo em bares com meus amigos Luís e Álvaro. Visitei pouco o Telmo na sua sala do Correio do Povo. Trabalhei demais. Senti medo de andar na rua em muitas horas diurnas. Fiquei chocado a cada dia com a miséria nas ruas de Porto Alegre. Publiquei muito menos poesia do que poderia ter feito. Não andei a cavalo.

      Coisas muito boas aconteceram: reencontrei meus colegas do segundo grau, o antigo ensino médio, terminado em 1979. Com muitos deles, não falei, por falta de oportunidade, durante 40 anos. Não estive, porém, no encontro organizado pela turma em Santana do Livramento, nossa cidade natal de tantas lembranças e poucas visitas. Li muitos livros bons, aprendi muito nessas horas de introspecção, vi filmes interessantes, com sangue demais, sonhei bastante, talvez não o suficiente. Liguei para poucas pessoas. Publiquei dois livros que adorei ter escrito, “Ser feliz é tudo que se quer” e “Acordei negro”. Não os distribui pelas ruas como gostaria de ter feito. Vacilei.

      Em 2020, quero fazer muito mais. Ouvir mais Brahms, Mercedes Sosa, Lupicínio Rodrigues e José Mendes. Passear sem pressa e correr um pouco. Caminhar na orla e tomar banho de sanga ou de arroio. Ficar menos estressado. Competir menos. Não concorrer a prêmios literários ou jornalísticos, salvo por obrigação contratual. Não oferecer minha cabeça em bandeja para julgamento sumário dos donos dos campinhos com suas velhas fórmulas e seus novos ídolos. Sorrir mais para as tantas pessoas que me param nas ruas e comentam meus textos com vigor e entusiasmo. Galopar pelos campos de Palomas e da Florentina, onde ainda passarei uma semana de verão vendo estrelas e sentindo a brisa do amanhecer. É uma promessa de vida. Não morrerei sem fazer isso.

      Quero ter mais convicções refletidas e menos certezas apressadas, ser mais lento nas respostas que exigem amadurecimento e mais rápido nas concessões justas que só nos engrandecem. Pretendo ser mais firme, embora não menos conciliador, mais duro sem ser menos afável. Desejo argumentar mais e discutir menos, rir mais e não ser tão conciso em e-mails ou ao telefone. Não me restringir a um “valeu” quando me elogiam. Não afirmo que cumprirei tudo o que prometo, pois nada prometo, apenas expresso meus desejos mais caros. Espero que em 2020 os governantes pensem mais nas pessoas e menos no mercado.

      Em 2019, não disse para Taline e Pâmela que é um prazer trabalhar com elas todos os dias no Esfera Pública. Nem ao Luiz Gonzaga Lopes que fazer com ele o Caderno de Sábado é uma alegria permanente. Nem ao Nando Gross e ao pessoal do Ganhando o Jogo que eles são espetaculares. Pretendo me corrigir em 2020. Acima de tudo, quero ser mais leve, mais suave e mais preciso em minhas viagens.


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