Sexo, louça e alongamento

Sexo, louça e alongamento

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E agora? Depois de séculos de luta para fazer os homens lavarem louça, ainda que de má vontade, surge uma pesquisa “científica”, segundo um programa de televisão quase jornalístico, capaz de colocar tudo a perder: homem que lava louça faz menos sexo. Uau! Como ciência é construir e verificar hipóteses, aqui vão algumas: é corpo mole (opa!) dos homens para serem dispensados dessa tarefa doméstica cotidiana; trata-se de uma greve de sexo para chantagear as mulheres e obrigá-las a retroceder em suas conquistas estruturantes; a culpa é de algum componente do detergente, um produto químico qualquer que diminui o apetite sexual ao contato com mãos masculinas.

Pesquisa interativa: caro leitor, o senhor lava louça? Quantas vezes mantém relações sexuais por semana? Quem mente mais: o homem que afirma lavar louça sete dias por semana ou o que afirma fazer sexo esse mesmo número de vezes por semana? Há homens que fazem mais sexo para lavar menos louça. Daí certamente a relação entre lavar louça e sexo. Cama e mesa. Homens são animais facilmente adestráveis. Funcionam no esquema chicote e cenoura, chicote e torrão de açúcar, punição e recompensa. Há também, embora a pesquisa não tenha captado esse aspecto, homens que lavam mais louça para poder fazer menos sexo:

– Amor, vem cá, está tão quentinho aqui.

– Hoje não, já lavei louça.

– Como você é fofo, amor.

A ciência não para de nos surpreender. Numa semana não se deve comer muito ovo. Na outra, o ovo é a salvação. Quase todo alimento já foi vilão e herói. Eu acredito numa única verdade definitiva: só o excesso é ruim. Água em excesso faz mal. O resto é hipótese. Algumas “descobertas”, porém, têm a minha simpatia. Por pura implicância. Por exemplo, a de que alongar antes de uma prática esportiva diminui o rendimento e pode causar lesões. Adorei essa. Sou louco por “desconstruções”. Nunca alonguei. Jamais tive lesão muscular. Os defensores do alongamento formam uma espécie de seita. Alguns defendem até alongamento antes de lavar louça e do sexo.

– Vem cá, amor, vem.

– Não posso, estou alongando.

– Não precisa, amor, já é o suficiente.

Normalmente essas descobertas são feitas por pesquisadores americanos e saem em revistas científicas conceituadas. A minha hipótese é de que se trata de um efeito de concorrência. Se fulano defende que alongamento faz bem, temos de investigar a hipótese de fazer mal. Outro efeito é o de correlação. Não se faz ciência sem imaginação. É preciso seguir até mesmo a sua intuição:

– Bom dia, Dr. Peter!

– Oi, John. Estou exausto. Lavei uma montanha de louça.

– Aposto que nem teve tempo para o sexo.

– Claro que não. Ainda mais que jamais deixo de alongar. Ei, John, você acaba de descobrir uma possível correlação entre sexo e lavar louça. Temos de testar essa hipótese.

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