Sobre a gripe espanhola

Sobre a gripe espanhola

Doença atravessou 1918 e 1919

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      Tenho estudado a gripe espanhola. Ela não durou 12 semanas. Nem 24. Teve três ondas. Um livro interessante sobre o assunto é “A grande gripe – 1918: a pior epidemia do século. História da gripe espanhola”, de Freddy Vinet, professor da Universidade de Montpellier. Há muito material em qualquer língua. Existem estudos e obras consistentes sobre a gripe espanhola no Brasil, onde foi devastadora. Nesse livro francês que cito a pandemia é apresentada didaticamente, tendo começado em março de 1918 em campos militares americanos. Especialistas tendem a concordar com a afirmação de que o início foi mesmo nos Estados Unidos da América. Em abril já haveria casos na França. Em maio, explodiria na Espanha.

      A segunda onda eclodiu em agosto de 1918. A terceira, em fevereiro de 1919. O fim teria sido entre agosto e dezembro de 1919. A doença correu o mundo. As estimativas de mortes oscilam entre 39 milhões e cem milhões de pessoas, com ênfase em 50 milhões. Uma enormidade. O enfrentamento à peste adotou várias estratégias: higienização, máscaras e isolamento social. Nos Estados Unidos, muitos lugares se destacaram por medidas restritivas de circulação. Os economistas Sergio Correa, do Banco Central americano, Stephan Luck, do Banco Central de Nova York, e Emil Verner, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, segundo a BBC News, publicaram estudo sobre os mecanismos adotados para enfrentar a doença: “Ao analisar como se deu a recuperação econômica em 43 cidades americanas após o fim do surto de gripe espanhola, seus autores concluíram que a atividade voltou a crescer mais rápido onde as autoridades municipais adotaram medidas para conter a expansão da epidemia, em comparação com locais que não atuaram para reduzir o contágio”. Quem agiu com maior rigor se deu melhor.

      O que foi feito para frear o vírus segundo esses estudiosos do fenômeno: “Uso obrigatório de máscara, isolamento de pessoas infectadas, tornar a gripe uma doença notificável e medidas públicas de desinfecção e higiene". Mais: fechamento de escolas e “proibição de reuniões de massa". Filadélfia não adotou essas medidas: "Como consequência, a Filadélfia teve um aumento considerável na mortalidade relacionada à gripe espanhola durante o outono de 1918. As autoridades da cidade de Saint Louis, por outro lado, intervieram rapidamente, e a taxa final de mortalidade foi substancialmente mais baixa". Sonhava-se com uma vacina salvadora.

      Outro livro importante é “A grande assassina: como a gripe espanhola mudou o mundo”, de Laura Spinney. Alguns autores afirmam que a pandemia estendeu-se até julho de 1921. Artigos acadêmicos trazem preciosas informações sobre a gripe no Brasil. Adriana da Costa Goulart, em “Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro”, mostra que “a situação instaurada pela epidemia de gripe espanhola foi encarada como fruto de negligência, descaso, incompetência administrativa do governo, que não possuía estratégia alguma para lidar com as ameaças que intimidavam a nação, fatores amplamente explorados pelos jornais”.

 

 

 


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