Sobre leitores apressados e tudo passará
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Publiquei aqui dois artigos, um de Jânio de Freitas, sobre a economia brasileira, e outro de um jornal do Amazonas sobre Demétrio Magnoli.
Fui citado como se eu fosse o autor dos artigos.
Gostaria de ter escrito os dois textos.
São extraordinários.
Mas não o fiz.
Estão devidamente assinados.
Dão um belo pau nessa turba de descerebrados que escrevem na mídia lacerdinha reproduzindo um discurso macartista mofado.
É incrível como aparecem novos lacerdinhas sempre mais primários, mais rasteiros, mais ferozes, mais ruidosos e mais sem conteúdo.
É o brega de uma nota só.
*
Morreu Nelson Ned.
Eu gostava muito dele. Quase cantei uma música de Nelson Ned no coral do Colégio Santanense, de Livramento. Quando abri a boca para deixar sair a primeira sílaba, o diretor da escola e do coral apontou para mim e disse:
– Sai.
– Eu?
– Sim.
– Por quê?
– Desafinado.
Fiquei desolado. O diretor, então, me consolou:
– Tudo passa.
Sentei na praça e cantei com raiva:
– Tudo passará.
E desejei que ele fosse o primeiro a passar.
Aí descobri João Gilberto e me consolei de vez.
Mas nunca deixei de admirar Nelson Ned.
Nessa época, adorava Nelson Ned e Evaldo Braga, o ídolo negro.
– Tudo passa.
Só os lacerdinhas se renovam.
Sempre para pior.