Técnica do destino: fazer amigos

Técnica do destino: fazer amigos

Pessoas que contam para sempre

publicidade

 

No conto “trio em lá menor”, Machado de Assis fala na “técnica do destino”. O destino, nome que damos ao acontecido, produz estranhas coincidências, bizarras simetrias, reencontros improváveis, separações impossíveis, reviravoltas impressionantes e temores terríveis. Há expressões que reverberam como fulgurâncias pelo abominável que representam: racismo reverso, marketing de lacração, iliberalismo. Há coisas boas também na “técnica do destino”. Esse tal destino me fez cruzar muitas vezes com Urbano Zilles, a quem devo minha entrada na PUCRS como professor. Zilles, Mainar Longhi e o reitor Norberto Rauch me abriram a porta quando voltei do doutorado na França. Zilles acaba de lançar um livro precioso: “Minhas memórias (editora Est).

Ele foi responsável, como pró-reitor, pelo programa “mil doutores no ano dois mil”, que fez a PUCRS dar um salto em pesquisa e pós-graduação. Outro livro, “Crer e saber: pilares da vida de Urbano Zilles” (Edipucrs), organizado por Ana Zilles e Ricardo Recktenwald, com texto de Carolina Argenti Rocha, inventaria a trajetória do professor, filósofo, escritor e religioso. Nas suas memórias, Zilles observa: “O ofício de professor é, sem dúvida, um dos mais nobres e mais importantes numa sociedade civilizada”. Estudante de história, tive meus desentendimentos com o diretor da faculdade, Urbano Zilles. Ele soube me perdoar e me dar grandes oportunidades de trabalho. Graças a ele, pude ir para o pós-doutorado na França em 1998.

A “técnica do destino” me fez aprender a admirá-lo. É um dos homens mais importantes da minha vida. Aos 83 anos, desfruta da sua merecida aposentadoria. Outro livro que finalmente me chegou as mãos, depois de algum tempo retido nos correios, chama-se “Discurso de ódio xenofóbico: o tratamento jurídico de Brasil e Argentina entre promessas de integração e práticas de exclusão”, de Bárbara Eleonora Taschetto Panciera. Tenho a convicção de que uma cultura de civilidade digna de um século de iluminação precisa assentar-se em seis pilares: combate a racismo, homofobia e xenofobia; tolerância religiosa; valorização da diversidade; pluralismo de opiniões; liberdade política e econômica; e luta contra a desigualdade como fosso social.

Fácil de fazer? Não. A “técnica do destino” precisa ajudar. Bárbara Bolzan assinala: “Entende-se a importância da livre atuação da mídia, não competindo ao Estado ou aos governos terem controle sobre ela. No entanto, espera-se que o exercício da comunicação social seja responsável e pautado pelos valores que inspiram a ordem democrática dos Estados, com especial atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana. Logo, a atuação da mídia também pode se constituir em importante instrumento para a promoção de educadores voltada para a interculturalidade, entendendo-se que os veículos de comunicação não podem se isentar de promover o respeito a diversidade e pluralismo, atuando de modo a ressaltar as diversas maneiras de expressões culturais presentes na sociedade”. O século XXI será pluralista ou afundará em contradições, exclusões, preconceitos e divisões.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895