Todos os homens do presidente

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Corrupção digital e presencial


 

      Modernos usam sempre antigos argumentos: o novo deve prevalecer sobre o velho. O ônibus só podia ser melhor que o bonde. O transporte rodoviário era superior ao ferroviário. A criptografia garante segurança máxima no transporte virtual de dados e é inviolável. Tudo cantiga de ninar. A grande corrupção não acontece no Brasil. A Rússia determinou o resultado das eleições nos Estados Unidos. Uma empresa de manipulação de dados, a Cambridge Analytica, apossou-se de informações de 50 milhões de perfis do Facebook e ajudou a eleger Donald Trump e a produzir o Brexit, a saída da Inglaterra da União Europeia. É pouco? Tem também o caso dos amigos presos de Michel Temer.

É outro papo. Justamente. Outro papo de corrupção.

Em entrevista ao “El País”, Christopher Wylie, o jovem gênio do mal arrependido, que criou o ovo da serpente e não quer mais chocá-lo, denunciou empreiteiras militares que negociam com o Estado e assessoram “alguns dos políticos mais importantes do mundo”. Uma frase dele serve até para o cineasta José Padilha e suas trapaças na série “O mecanismo”: “A diferença é quando você engana, quando cria uma realidade na medida certa para alguém”. Willye tornou-se mestre na produção de fakenews sob medida. Funciona assim: “Você pode traçar o perfil de um grupo de pessoas muito receptivas a essas teorias conspiratórias, do tipo de que Obama mandou tropas para Texas porque não está disposto a sair. Então você fabrica blogs ou sites que parecem notícias e os mostra o tempo todo às pessoas mais receptivas a esse pensamento conspiratório”. Básico. Tão básico quanto ter um "laranja".

Quem faz isso? Quem financia fakenews? Empresários com interesses ideológicos. Robert Mercer, o dono da tal Cambridge Analytica, agiu, segundo Willye, para “moldar narrativas que as pessoas comprariam e que tornariam mais fácil a conexão com candidatos da direita alternativa”. Nesse sentido, teria inventado essa “direita alternativa” manipulando mentes frágeis: “Precisava que os republicanos fossem do tradicional ‘não gosto dos impostos’ para ‘Obama vai roubar minhas armas com um exército secreto’”. O que fazer contra isso? A circulação de dados na internet “deveria ser regulada do mesmo modo que um serviço público”. Uau! O que dirão os adeptos da desregulação total de tudo?

Para os que insistem em acreditar em Papai Noel, Willye avisa: “Eu não especularia sobre como romper a segurança do Facebook, mas não existe essa coisa de sistema perfeito”. Nem criptografia. A nova mitologia é que moedas como Bitcoin não têm dono. Ninguém as controla. Depois de surfar na manipulação digital, o delator Willye descobriu algo que os pós-modernos sabem desde sempre: “A política e a moda são a mesma coisa. São a expressão da identidade e do seu papel na sociedade. Você pode pensar em Trump em termos de moda. Eu o vejo como as sandálias Crocs. Sabe o que são? É uma coisa objetivamente feia. Antes de serem populares eram feias, e depois voltaram a ser. Mas quando eram populares todo mundo as usava. Para mim, Donald Trump é o mesmo que sandálias Crocs. É uma estética objetivamente horrorosa, mas as pessoas sucumbem às modas. As pessoas adotam uma estética da qual depois, quando virem as fotos no futuro, se arrependem profundamente”.

E o papo dos amigos do Temer? É simples. Todos os homens do presidente acabam na cadeia.

Conversa imaginária entre presidente e procuradora-geral da República:

– Excelentíssimo Senhor Presidente, acabo de pedir a prisão dos seus amigos.

– Excelentíssima Senhora PGR é um grande prazer encontrá-la tão cedo.

– Podemos ser amigos no Face?

– No Face? Não é perigoso? ouvi dizer que tem muita manipulação e até corrupção.

– Não mais do que em qualquer lugar.

– Qualquer lugar?

– O senhor pode imaginar.

– Posso?

– Claro. Feliz Páscoa.

 

 

 

 

 

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