Toque de recolher na Cidade Baixa

Antigamente, quando eu era jovem, o bairro do agito em Porto Alegre era o Bom Fim.

Os bares vararam a noite.

Deu conflito com os moradores, que queriam dormir.

Gente séria e com suas legítimas razões.

Impuseram o toque de recolher.

Até que o Bom Fim boêmio morreu.

Foi para a Cidade Baixa.

Agora, por conflito com os que querem dormir por alguma razão séria e legítima, a comunidade que precisa trabalhar de manhã cedo ou que amam o silêncio da madrugada, haverá toque de recolher na Cidade Baixa.

Será o começo do fim?

Até de sábado para domingo os bares terão de fechar, no máximo, às 2h30 da manhã. É terrível. É insuportável. É antidionisiaco.

Uma cidade tem direito a ter, ao menos um dia por semana, um bairro com agitação noturna total até o amanhecer.

Que me desculpem os ordeiros, os trabalhadores, os insones, os cidadãos de bem, mas a cidade, qualquer cidade, precisa ser da festa, em algum lugar, um dia por semana.

Entendo o conflito entre ordem e desordem, trabalho e festa.

Sei, não moro mais na Cidade Baixa.

Mas, mesmo assim, eu protesto.

Que se invista em tecnologia!

Que se invista em policiamento!

Ou que se construa um novo bairro vedado a gente que precisa dormir cedo.

Ordem demais vira ditadura.

A Cidade Baixa ainda vai aderir ao horário de baile da terceira da idade.