Tudo no Brasil de Gilmar

Tudo no Brasil de Gilmar

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Há pouco mais de um ano havia um coro no Brasil por combate à corrupção. Uma presidente acusada de malfeitos não poderia comandar o país. Mudou. Agora temos um presidente investigado, que poderá ser formalmente denunciado na próxima semana, considerado como o menos pior para o momento. Pedia-se que a ação contra Dilma-Temer avançasse no TSE e resultasse em cassação da chapa. O ministro Gilmar Mendes lutou, “modéstia às favas”, para que a reclamação do PSDB, feita “só pra encher o saco do PT”, segundo Aécio Neves, prosperasse. Mudou. Gilmar agora declara que não era “para cassar ninguém”. Era só para encher o saco ou, quem sabe, derrubar Dilma. Temer precisa ficar.

Naqueles longínquos tempos do começo de 2016 defendia-se que a justiça tinha por obrigação fazer julgamentos técnicos. Hoje, clama-se, em nome da estabilidade, por um julgamento político. Naquela distante época denunciava-se o aparelhamento do judiciário pelo PT. Eram citados todos os ministros indicados por Lula e Dilma para o STF como provas de uma ocupação indevida da corte suprema. Não se fala mais em aparelhamento neste momento em que dois novos ministros do TSE, indicados por Temer há um mês, vão julgá-lo, depois de uma empurrada do julgamento com a barriga para que eles pudessem assumir. Naquele distante momento de crise da política nacional, o TSE, sob influência de Gilmar Mendes, determinou que fossem produzidas novas provas para engrossar a denúncia contra a chapa Dilma-Temer. Mudou.

Não se admite mais a inclusão de novos fatos e provas. Passou a ferir gravemente o direito verde-amarelo. Há alguns anos, o homem mais paparicado do país era o presidente do STF, o ministro Joaquim Barbosa. Quando ele se empenhou na condenação dos réus do mensalão petista, com toda a razão, mas nem sempre com provas, no dizer do jurista de direita Ives Gandra Martins, tornou-se presidenciável. Era o nome da vez. Mudou. Agora que Joaquim Barbosa sinaliza seu desejo de concorrer, os seus antigos admiradores não o querem mais. Acusam-no de ser “pavio curto” e de não ter experiência política. Só falta alguém gritar “fora, Barbosa”. Quem é o nome defendido? Michel Temer, ora.

Muitos dos ministros indicados por Lula e Dilma para o STF, entre os quais Joaquim Barbosa, Teori Zavascky e Edson Fachin, mostraram-se completamente independentes. Dias Toffoli, apontado como petista, vota quase sempre como discípulo de Gilmar Mendes, que disfarça cada vez menos o seu tucanismo e a sua predileção por Temer, que se mantém no governo graças ao PSDB, que antes cumpria a nobre função de moralizar a nação. Será que os ministros do TSE escolhidos por Temer e por Alexandre de Moraes, que era ministro da justiça antes de ser infiltrado no STF numa operação clara de aparelhamento, vão seguir o exemplo de Barbosa, Teori e Fachin ou do engajado Gilmar Mendes? Tudo passa, tudo muda, tudo se transforma de um minuto para outro, nada permanece. Só Temer precisa ser mantido a qualquer custo. A tese da percepção seletiva da corrupção entra na eternidade.

 

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