Tudo que eu não lembrava sobre o Mundial de 2000
publicidade
Eu me lembrava apenas que não havia sido conforme as regras de antes, da chamada Copa Intercontinental ou Copa Toyota.
Até então, o país sede não tinha participação na disputa.
Mas eu não lembrava de detalhe algum.
Depois de ler sobre o assunto, estou apavorado. O Alzheimer vai me pegar logo.
Eu não me lembrava que a Fifa encarregara a CBF de atribuir uma vaga para o seu mundial realizado em janeiro de 2000.
Eu não me lembrava de cinco aspectos destacados pelo site R7.
Ao menos, não me lembrava dos elementos menores. Por exemplo, que o campeão da Libertadores de 1999 foi o Palmeiras, não o Vasco. Não me lembrava que o Corinthians foi indicado pela CBF para o torneio como campeão brasileiro de 1998, embora tenha vencido o Brasileiro também em 1999, mas, quando da indicação, isso ainda era incerto, assim como o Vasco entrou na condição de campeão continental de 1998 sob alegação de que não haveria tempo para esperar as decisões de 1999.
Como foi possível o Palmeiras ter tido tempo de disputar a Copa Intercontinental, que continuou acontecendo?
Eu não me lembrava do essencial. Vou correndo ao médico.
Este texto é sobre a minha falta de memória.
Não me lembrava disto tudo:
"1. Não ganhou a Libertadores
Não faz sentido disputar o principal torneio de clubes do mundo sem ganhar a principal competição do continente – na qual o Corinthians havia sido eliminado nas quartas de final pelo Palmeiras, que seria o campeão da Libertadores. O rival, inclusive, ficou de fora, preterido pelo Vasco, que havia vencido o torneio no ano anterior. "
OBS. Prometeram ao Palmeiras uma vaga em 2001, que não saiu. O Palmeiras jogou a Intercontinental em dezembro de 1999.
"2. Apito amigo contra o Raja Casablanca
No primeiro jogo, o Timão venceu o Raja por 2 a 0, mas no segundo gol, marcado pelo zagueiro Fábio Luciano – que fazia sua estreia no clube –, a bola não chegou a cruzar toda a linha. No fim, a vaga na final foi decidida no saldo de gols, e o Corinthians levou a melhor por apenas um gol: 4 a 3."
OBS: já faz parte da tradição. Basta pensar em 2005 e agora em 2015.
"3. Os europeus vieram a passeio
Para o Real e o Manchester United, outro time europeu que disputou o Mundial, a viagem ao Brasil foi motivo de festa – só para os jogadores, pois os cartolas reclamaram muito. O Manchester, por exemplo, que tinha vencido o Palmeiras no Mundial Interclubes, um mês antes, apanhou feio do Vasco no Maracanã, debaixo de um sol de rachar no sábado à tarde. E as más línguas diziam que o astro Beckham e seus colegas só queriam mesmo saber é das caipirinhas à beira-mar."
OBS: só pode ser calúnia.
"4. O Mundial só voltou a ser disputado em 2005
Não pode ter credibilidade um campeonato que aconteceu em 2000 e só voltou a ser disputado no fim de 2005, quase seis anos depois. Vale lembrar que a segunda edição, que seria em 2001, na Espanha, foi cancelada porque a ISL, empresa de marketing esportivo que era parceira da Fifa, foi à falência."
OBS: pela regra atual, um país não pode ter dois representantes como aconteceu em 2000. Se o país sede tem o campeão continental, a vaga de anfitrião vai para o vice-campeão continental.
"5. Final no Brasil contra um time brasileiro
Essa piada está na ponta da língua dos são-paulinos: “Para ganhar o mundo é preciso atravessá-lo”. E após uma decisão contra um time brasileiro, ainda por cima, esse suposto título mundial fica ainda mais sem valor."
OBS: o Corinthians foi o primeiro e único clube a vencer o Mundial sem ter ganho antes a competição continental (em 2012, o Timão faria o serviço completo limpando seu currículo, mas sem abrir da primeira conquista). O Manchester, campeão de 1999, aceitou tranquilamente a duplicidade da titulação. Desde 2010, a participação do país sede está definitivamente na regra.
O Mundial brasileiro de 2000 teve uma final de Robertão.
Conclusão: na Copa Intercontinental ou Toyota país sede não participava. No Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, país sede participa. O Corinthians teve a "sorte" de ser o primeiro ganhador com esse novo formato. Teve a sorte também de ganhar no ano em que um mesmo país entrou com dois clubes. Teve sorte de ter gol que não aconteceu e ter ido à final pelo saldo de gols com ajuda do gol que não houve. Teve a sorte de entrar como campeão brasileiro de 1998, indicado pela CBF em junho de 1999, graças à prudência da entidade, que temia atropelos por ser muito organizada e racional. Falo de sorte, pois me nego a participar de teorias conspiratórias. O que aconteceu em 2005 foi um ponto fora da curva.
Só acredito numa coisa: minha memória não existe mais.
O alemão me pegou.
Eu só me lembrava que o Corinthians tinha sido favorecido.