Um ataque maledicente de um ruralista

Um ataque maledicente de um ruralista

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Juremir Machado e Avenida da Censura

Como uma imensa parcela dos gaúchos, leio diariamente as crônicas de Juremir Machado da Silva. Estive com ele algumas vezes, depois de contestar publicamente alguns de seus artigos sobre política rural, que tinham muito de enquadramento ideológico e pouco de substância. Muito afável no trato pessoal, me convidou algumas vezes para debates no seu programa “Esfera Pública”. A convivência pessoal, quando nos encontramos, é sempre agradável. Nada que me impedisse de seguir discordando dele quando enveredava por desatinos como a condenação ao Código Florestal, por exemplo.

Agora ele defende publicamente o projeto de dois vereadores do Psol porto-alegrense, que querem mudar o nome da avenida Castelo Branco, primeiro presidente do período militar. Fernanda Melchiona e Pedro Ruas, pra quem não lembra, são da mesma sigla da ex-deputada Luciana Genro, a socialista que soube recorrer ao grosso capital privado para montar uma escolinha, sob o abrigo de instituições públicas e com o proveito da força política do pai governador. É a mesma sigla que fustigou a governadora anterior com denúncias sobre “imagens com clareza de cinema”, que nunca apareceram. Ruas, processado pelo ex-marido da governadora, se escondeu no abrigo antiaéreo da imunidade parlamentar. E são estes senhores que agora querem embarcar na onda do revisionismo histórico, sob o pretexto de banir a memória de um ditador.

Em Bagé existe o conhecido Ginásio de Esportes Presidente Médici, o “militão”. Na minha São Gabriel existe uma ruazinha pequena dedicada ao presidente Figueiredo. A capital dos catarinenses enverga seu nome em homenagem ao marechal Floriano Peixoto, que consolidou a república esmagando revoltas com mão de ferro. Seria honesto agora, banir o nome destas figuras históricas que, no contexto de sua época, subiram ao poder dentro das leis vigentes? Isso não seria negar o próprio desenvolvimento histórico do Brasil, que hoje pode se orgulhar de ser uma democracia sem a vulgaridade do revanchismo?

Juremir diz apoiar a causa porque Porto Alegre não merece uma avenida com nome de ditador. O que dizer então da avenida Getúlio Vargas, nome do personagem histórico tratado como herói em seus livros “Águas da Revolução” e numa biografia romanceada que ele escreveu? Ou será que na mente da esquerda existem ditadores “do bem”? Talvez ele goste mais da parte do projeto que substitui o nome de castelo por “Avenida da Legalidade”. Por causa de um livro sobre o assunto, Juremir tem percorrido o interior pra louvar o episódio, em eventos patrocinados por um partido político (o que soa estranho para um intelectual independente).

Os que louvam o episódio da Legalidade não conseguem, todavia, fugir do paradoxo de que um levante que pretendia defender a Constituição só teve êxito por causa de um ato de violência policial e censura à liberdade de imprensa, com o governador determinando o seqüestro dos equipamentos da Rádio Guaíba. Os que diziam defender o país de um golpe, praticaram o arbítrio e a censura para manter uma emissora de rádio sob seu controle. Surpreende que alguém consiga ser defensor da imprensa livre e apreciar o episódio da Legalidade ao mesmo tempo.

Sugiro que os vereadores modifiquem o projeto e mudem o nome da via para “avenida da Censura”. Seriam mais honestos com o que realmente aconteceu durante a Legalidade, e mais claros sobre suas próprias intenções revisionistas e de revanchismo puro.

 

Tarso Francisco Pires Teixeira

Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel

Vice Presidente da Farsul

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O artigo acima foi enviado a mim e está circulando numa lista de endereços na internet.

Eis aqui a minha breve resposta:

Tarso Teixeira, a percepção que tenho do senhor é exatamente esta: muito enquadramento ideológico, em se tratando de política rural, e quase nenhuma substância. Um conservadorismo extremado que não o deixa compreender qualquer mudança no mundo. Mas isso é questão pessoal e não pretendo impor-lhe o que penso. Convivi tranquilamente até agora com as suas provocações um tanto grosseiras. O seu comentário de hoje, porém, descamba para a maledicência (ou seria desonestidade?), o que me obriga a responder. Falei sobre a Legalidade em vários municípios a convite de prefeituras, feiras de livros, câmaras de vereadores, universidades, entidades privadas e diversos partidos: PDT, PT, PMDB, PCdoB, PSB e PP (Sobradinho). Alguns exemplos: falei em Passo Fundo a convite do vereador Juliano Rosso (PCdoB). Estive em Erechim a convite da Unimed. Nesta sexta-feira, 16 de dezembro, falarei novamente em Porto Alegre a convite da Unimed. Em Carazinho, falei a convite da Delegacia Regional de Educação. Em Santigo, falei na URI. Em Jaguari, palestrei a convite do secretário de Educação (PT). Em Santa Maria, estive na UFSM. Em Agudo, fui convidado por uma escola da rede municipal  (PMDB). Em Santana do Livramento (PSB), falei na Feira do Livro Internacional. Estive em Esteio (PT), Santo Cristo (PT), São Leopoldo (PT), Santa Rosa (PT) e por aí vai. Claro que recebi muitos convite do PDT. Nenhum que me condicionasse ao que quer que seja. Em Porto Alegre, palestrei em diversos lugares, inclusive no Palácio Piratini, inserido na programação oficial dos 50 anos da Legalidade, e até numa associação de auditores fiscais. Em todos os lugares, disse o que penso, o que escrevi, o que pesquisei, o que acredito, o que não me envergonha, o que merece ser dito. O Rio Grande do Sul soube não ser mesquinho em relação a isso. É característica de uma sociedade generosa e complexa.

Se Getúlio Vargas tivesse sido apenas um ditador, tenha certeza disso, eu seria o primeiro a pedir que todas as homenagens a ele fossem canceladas. Acontece que ele foi um pouco mais. Meu livro, contudo, não poupa críticas ao Estado Novo. Não tenho a menor intenção de convencê-lo disso. Aceito as suas posições ideológicas com indiferença. Só não aceito qualquer insinuação maldosa como a que foi feita.  Juremir Machado da Silva

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