Um bosque na Ramiro Barcelos

Um bosque na Ramiro Barcelos

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Prezado Juremir, estou te escrevendo com atraso. Pretendia te escrever já há tempo. Tuas crônicas tem sido um alento em meio a tantas barbaridades que a gente vê se acumularem por aí. Portanto, em primeiro lugar, esta mensagem é um agradecimento. Obrigado.

Em segundo lugar, quero dar minha pequena contribuição em três temas que abordaste nos últimos tempos.

O primeiro deles, é o provável corte das árvores do Hospital de Clínicas. Em 1977, quando eu era calouro do curso de Biologia da UFRGS, dois caras, também calouros, tomaram a frente num empreendimento, que apesar dos anos de chumbo, deu certo: o plantio das árvores no então descampado que ocupava a frente do Hospital de Clínicas. Eles eram o Marcos Sobral, hoje botânico em Minas Gerais, e o Renzo Bassanetti, hoje geógrafo, ex-diretor do Parque Nacional dos Aparados da Serra. Pois eles mexeram aqui, mexeram ali, e conseguiram mil e tantas mudas de árvores nativas junto à Secretaria Estadual de Agricultura. Com a anuência da direção do hospital, mobilizaram a turma da Bio e de outros cursos, e acabaram plantando aquele belo bosque que hoje conhecemos. Comentei com o Renzo sobre tua coluna e ele já deve ter te escrito, com dados a respeito desse evento. De qualquer forma, como sei que recebes uma enormidade de e-mails, reforço o e-mail dele, e anexo o texto que ele escreveu, junto com a lista de árvores que eles conseguiram na ocasião.

O segundo assunto, é referente a uma coluna tua de uns dois meses atrás, sobre o desejo de alguns, de cercar a Redenção. Recentemente, concluí um projeto de pesquisa em Artes Plásticas, sob orientação de Rualdo Menegat. O projeto foi financiado pelo Fumproarte da Secretaria Municipal da Cultura, e o tema é a Redenção. Nele, eu procurei criar uma atmosfera gráfica capaz de traduzir em imagens o significado deste espaço para a cidade. Selecionei 160 desenhos e pinturas, que resultaram em uma exposição no Museu da UFRGS, ano passado, e na edição de um DVD, que narra brevemente a história da Redenção através das imagens. Neste trabalho, vivi experiências que transformaram minha visão das coisas, e passei a ver a Redenção como uma espécie de espelho de Porto Alegre. O cercamento, nada mais seria do que tapar este espelho, tirar da Redenção o que ela tem de mais especial, que é justamente essa capacidade de nos retratar. Gostaria de te entregar em mãos o catálogo da exposição no Museu da UFRGS e o DVD que produzi junto com o Rualdo.

O terceiro assunto são os kaingangues. Faz uns três anos te abordei em frente à Prefeitura, pra expressar a minha admiração pela clareza com que descreveste as contradições, espantos e angústias envolvendo os kaingangues imersos em uma cultura invasora. Tuas palavras foram uma espantosa tradução de minhas inquietações. De 1998 a 2005, estive diretamente envolvido, juntamente com os antropólogos Rogério Rosa, Rodrigo Venzon, o kaingang Dorvalino Cardoso e meu amigo Fábio Torres, no resgate da memória sonora deste povo. Nossa preocupação era com a preservação de aspectos importantes da cultura, que estavam caindo no esquecimento, devido ao gradual desaparecimento dos velhos detentores desses saberes ancestrais. Como resultado disso, conseguimos produzir dois CDs etnomusicais, com financiamentos do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, que resgatam parcelas importantes da rica cosmovisão do povo kaingang.

Meu caro, um grande abraço.

Jorge Herrmann

www.jorgeherrmann.com

 

Árvores nativas plantadas no entorno do HCPA de Porto Alegre entre agosto e setembro de 1977

Espécie Quantidade

Açoita-cavalo: 35

Angico branco: 15

Angico vermelho: 5

Aroeira vermelha: 25

Bracatinga: 30

Cabreúva: 14

Camboatá: 26

Canafístula: 14

Canela amarela: 31

Canela-de-veado: 10

Cangerana: 10

Caroba: 8

Cedro branco: 11

Grápia: 22

Guajuvira: 12

Guabiroba: 4

Guabiju: 6

Corticeira: 5

Guatambu: 16

Figueira: 13

Ipê amarelo: 18

Ipê-Roxo: 19

Jacarandá: 12

Louro branco: 13

Louro preto: 4

Araucária: 6

Pitangueira: 4

Paineira branca: 9

Palmeira buriti: 15

Pata-de-vaca: 12

Tarumã: 16

Timbaúva: 13

Tipuana: 2

Umbu: 15

Palmito: 15

 

 

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