Um depoimento espontâneo sobre a Legalidade

Um depoimento espontâneo sobre a Legalidade

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Caçapava do sul, agosto de 2011

Embora sendo agosto um mês de frio violento este 25 não fazia temperatura mínima insuportável..

Dez horas da manhã, hora do lanche. Trabalhava na Caixa Econômica Estadual, matriz situada na esquina da Dr. Flores com rua da Praia.Fui para fazer um pequeno descanso saboreando uma taça de café preto com um gostoso mil folhas,na lanchonete dos dois irmãos italianos que ficava um pouco acima do edifício da Caixa na rua Dr. Flores. Rádios naquele tempo eram poucos embora começava a era do radio portátil. Perto da máquina registradora tinha um Philips que ficava ligado diariamente. Chama à atenção a característica de noticia de plantão. Atenção! Atenção! Acaba de renunciar o presidente Janio Quadros. Sem terminar meu lanche corri até o segundo andar, local da diretoria da casa de credito, bati forte na porta do presidente da entidade Dr. Alter Cintra de Oliveira nosso conterrâneo. Com sua costumeira calma perguntou. Que houve? Respondi afoitamente; Janio Quadros renunciou. Calma, foi sua primeira palavra. Isto é grave e precisa haver certeza, ainda mais que o governador Leonel Brizola esta em nossa sala. Voltei a afirmar, ouvi sim neste momento.

Minutos depois estava cerrada as porta do estabelecimento. Correria total, um dos diretores (Helio Quedes) deu ordem para retirar todo seu dinheiro em depósito, poderia precisar em caso sustentar uma revolta ou greve geral. A primeira preocupação surgiu, o presidente João Goulart esta na China, e os militares não estão dispostos a recebê-lo como legítimo mandatário da nação ferindo de cheio a nossa carta magna.

Os dias foram passando e maior era o desejo dos militares, e grande parcela de políticos reacionários, de não dar a legitimidade ao vice presidente eleito.

Surge uma liderança com coragem e desprendimento, o governador de nosso estado na época, Dr. Leonel Brizola. Com sua voz firme e convicta anuncia ao pais um movimento de soberania e respeito a nossa constituição.Logo o povo recebeu esta mensagem , começando a agrupar-se manifestando inteira solidariedade .O resto do pais mantinha-se calado ,poucas eram os governadores a apoiar o grito de Legalidade.Assim mesmo o governo gaucho com fibra continuava lutando com toda a força possível, esperando uma resposta do terceiro exercito, comandado por general Machado Lopes.

A estas alturas já me encontrava junto de muitos dentro do Palácio Piratini aguardando a manifestação do comando militar. Lembro que foi dado ordem, ou melhor, sugestão, para colocar óleo queimado nos paralelepípedos das ruas que davam acesso ao palácio, tentando dificultar a chegada dos tanques de guerra.

Chega o momento culminante, Brizola fala que poderíamos ser mortos, com a eminente invasão da sede do governo, aquele era o momento de resistir ou renunciar nossas convicções. Ninguém arredou pé do local .Lembro-me da palavras de Josué Quimaraes ao vereador Giudice que estava armado na janela;se tombares serei o segundo, eu que estava logo atrás de Josué pensei rapidamente, o terceiro serei eu.Senti que o ímpeto de minha juventude era para valer e não só para aparecer. Felizmente nossos revolveres ficaram calados, Machado Lopes entra no palácio com voz calma disse; Governador estamos trazendo solidariedade, nossa tropas estão do lado da Legalidade.

Leonel vai ao porão onde estava a Radio Guaíba já requisitada, comunicando a noticia, cujo microfone era segurado por nosso conterrâneo, Naldo Freitas, e meu colega de serviço Marco A. Wansendoc.

Muitos acontecimentos aconteceram durante os dias que precederam a Legalidade fatos conhecidos por todos nós. Algumas peculiaridades estive presente. Batalhões de civis foram formados, embora com pouca orientação, surgia sempre um comandante. Fiz parte de um batalhão comandado pelo Sr, Stain.Grande concentração foi formado no então mata-borrão local de alistamento de voluntários.Ameaças com o alarme do avanço para bombardear o palácio do submarino Minas Gerais, que vinha em direção a costa gaucha. Foi mais uma ameaça para atormentar a população do que realmente desejavam as forças armadas.

Felizmente a calmaria voltou com grande manifestação em frente ao palácio e catedral metropolitana. Grandes e acalorados discursos, surgindo lideres que durante os dias de angustia ficaram na espreita. Um fato pitoresco foi que no meio das manifestações caio uma metralhadora que estava nas mãos de um brigadiano postado na torre da matriz. Foi grande o alvoroço, jogando-se para correr o então arcebispo, D. Vicente Scherer, na certeza pensando ser um ataque. Foi logo segurado pelo presidente da Assembléia Legislativa da época Deputado Carlos Magno {NE: Hélio Carlomagno}.

Alguns saques de aproveitadores foram feitos em lojas centrais, logo reprimidos pela segurança. No domingo anterior foi suspenso um Grenal

O caminho político continuo com acertos no Congresso Nacional modificando a forma de governo para parlamentarismo, assegurando a presidência com menos poderes ao Dr., João Goulart, sistema que durou pouco tempo.

Remaldo Carlos Cassol.Caçapava do sul.

Sr. Escritor Juremir, agradeço por manter viva esta verdadeira historia de heroísmo principalmente de nosso inesquecível Leonel Brizola.Sem pretensão, apenas colaborando envio este pequeno e real comentário da Legalidade. Participei como um simples militante, funcionário da Caixa Estadual em Porto Alegre.Outro fato foi de COI Lopes de Almeida subindo em uma mesa gritou sou sobrinho de uma governador e de um presidente da republica.

Obs. Procure a verdade de quem avisou Leonel Brizola da renuncia de Janio, Creio ter sido por meu intermédio.

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