Uma cena escatológica em Palomas
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O cheiro espalhou-se. A mulher de Isidoro intuiu algo e correu para o pátio. O ar fétido confirmou o desastre.
Atordoada, encontrou o marido emborcado no buraco de pouco mais de três metros. O chapéu boiava.
Isidoro não o tirava sequer à mesa.
Clementina ameaçou atirar-se também. O fedor impediu-a. Correu pelas ruas aos gritos, os filhos atrás, aos prantos. A Vila espreguiçou-se. Preferia-se esperar a volta do Comandante sem tocar no corpo.
Nicanor surgiu e silencioso começou a operação de resgate. Com uma lata, esgotou parte do conteúdo da fossa. Era baixo e não queria ser coberto pela bosta. Introduziu-se na cavidade, enterrou as mãos na merda e desvirou o cadáver que, ao cair, batera nas bordas do buraco e emborcara. O rosto do morto apareceu enlameado. Nicanor vomitou. Lá fora, a imobilidade.
Colocou o corpo de Isidoro no ombro direito e tentou erguê-lo. Vacilou e caiu sentado.
A merda sufocou-o por um instante. Os observadores saltaram para trás, salpicados.
Em pé, Nicanor recebeu o ar puro na cara. Reiniciou. Isidoro era um bloco, as botas cheias puxavam-no para baixo. O resgatador mudou de método. Saiu, trouxe o cavalo que atara no portão e aplicou a força da tração animal. O laço resistiu e Isidoro chegou a ser alçado até próximo da borda. As pernas, travessas, trancaram numa lateral da cova, a cabeça, noutra.
Somente a barriga do soldado alcançou o exterior.
Exausto, Nicanor retomou o corpo a corpo.
Livrou-se da roupa - incômoda - e sob as risadas histéricas da plateia banhou-se na merda: nu e em público.