Uma declaração de amor
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Estou com meu amigo Luc Férry, espírito conservador, politicamente de direita, ex-ministro da Educação da França: nunca o amor foi tão importante na vida das pessoas. Só aceitamos morrer por amor. Só casamos por amor (salvo os interesseiros). Praticamente só cantamos o amor. Filme sem história de amor dificilmente emplaca. O amor dá sentido à vida. Tem casado que sonha com a liberdade dos solteiros. Tem solteiro que vive atrás de um casamento. Vivemos numa época mais livre. Ninguém é obrigado a permanecer casado. Nunca a frase do poeta foi tão verdadeira: que o amor seja eterno enquanto dure. Não há amor por decreto, obrigação ou conveniência social ou moral. Amor não mente. Existe ou não existe. Impossível enganar.
Cláudia é o amor da minha vida. Sei que cada um dos meus leitores tem o amor da sua vida. Vivemos na era do amor, na civilização do sentimento, na cultura da relação. O amor hoje é muito mais interessante e arriscado, pois não tem fiador. Vale por si. Tem gente que acha piegas falar de amor. Eu não. Sem a menor vergonha, digo que amar é querer nunca se separar. Amar é querer ver um filme pirata juntos, às seis da tarde, depois de uma longa caminhada na areia. Amar é, sem ficar alardeando, torcer para o time do outro numa grande decisão. Cláudia é gremista. Mas torceu para o Inter contra o Barcelona. Inter e Grêmio, na verdade, têm pouca importância em nosso amor. Essencial mesmo é essa mão que se busca no meio da noite quando um pesadelo faz da vida uma catedral em ruínas. Essa mão insubstituível que o toque reconheceria na solidão de um naufrágio.
Tenho certeza de que o leitor pensa como eu nessa matéria. Amar é deixar cair o livro para, subitamente, sem necessidade nem razão aparente, dizer eu te amo. Amar é, no meio da tarde, ser tomado pela vontade de enviar um torpedo certeiro: já estou com saudades. Há quem ache o amor brega. Eu quero ser brega até o último suspiro. Ao lado da Cláudia. Sei que rabugentos dirão: “Que temos com isso? Por que não falas da corrupção na Petrobras?” Não direi que são mal-amados. Cláudia e eu tempos pela frente o resto da caminhada. Mais uns 50 anos já me deixariam satisfeito. Amar é abraçar a velhice juntos.