Uma defesa "dionisíaca" da festa na Cidade Baixa

Uma defesa "dionisíaca" da festa na Cidade Baixa

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Sobre a cidade baixa, boêmia por natureza

É bem sabido que, nos aproximados últimos sei meses, foi instaurada uma cruzada de moralização da Cidade Baixa. A pedido dos moradores, sob a alegação da perturbação do sagrado sono. Reivindicação mais do que justa.
O que seguiu foi a eleição dos bares, restaurantes, lancherias e casas noturnas como responsáveis pela situação que se apresentava. Não temos como nos eximir de tal título, mas acredito que um pouco de maniqueísmo foi o ingrediente desta cruzada.
Eu, como dono de estabelecimento comercial faço uso das palavras do grande escritor brasileiro, Guimarães Rosa em “Grande Sertão: veredas”, para justificar mudanças em hábitos comerciais como: decretar pena de morte aos copos plásticos, reformar o estabelecimento para manter os clientes dentro e cuidar para que os ruídos estejam dentro dos limites da boa convivência, na busca da melhoria do querido bairro, e da paz entre os moradores e comerciantes.
Diz o escritor: “O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.”
Mesmo afinando, sinto que minhas forças são limitadas. Em frente ao meu estabelecimento, por exemplo, um poste de luz se inclina na mesma velocidade que a torre de Pisa. Uma equipe da CEEE esteve no local e argumentou que o poste estava funcional. Não acreditei neles, acho que a real intenção é a criação de uma atração turística, igual ao monumento Italiano. Mas para que ele seja mais apreciável por turistas, ao menos que os cabelos deste candidato a atração fosse submetido a um tratamento capilar. Assim a Cia de Energia Elétrica estaria dando prova de seu apurado senso estético, e quem sabe ate poderia se eximir do rotulo de carregar apenas valor funcional em suas ações.
Outra limitação de minhas forças é quanto aos boêmios que insistem em trazer suas bebidas de casa e fixarem-se nas calçadas, dando a impressão de que os estabelecimentos comerciais endossam esta prática. Quem sabe a brigada militar não tenha uma solução dentro do excelente trabalho que estão executando no bairro. Já, os ambulantes que voltaram a habitar o espaço público desregradamente, fico em dúvida se a ajuda viria da SMIC ou da querida Brigada Militar.
Hoje, fui premiado com uma obra de arte, feita por algum canino em frente a porta do meu estabelecimento, presumivelmente propriedade de algum morador, que atualmente não mais sonolento, sequer teve a disposição de recolher.
Confesso, meu ultimo desafinamento foi este, usar a prática dos tempos de desregramento e fotografar tudo, para usar como prova concreta dos fatos a serem dirimidos em tribunal. Mas com muita força de vontade, enquanto escrevia o texto consegui me conter, e em nome da elegância não anexar às grotescas imagens da obra canina e do poste inclinado com aquele emaranhado de fios, em favor dos olhos dos que enxergam algum futuro para o bairro, para não atravessar ainda mais o samba de um Lupicínio Rodrigues, quase transformado em Marcha Marcial, por conta desta intolerância generalizada que se instaurou por aqui, e que aos poucos dá provas de considerável desgaste.
Já é hora dos comerciantes se unirem e contraírem juntos um APL (Arranjo Produtivo Local) para aproveitar positivamente a principal característica deste bairro, que é a boêmia.
Este arranjo, a meu ver, já se encontra em andamento na idéia da criação do Pólo Gastronômico Cidade Baixa, incentivada pelo SEBRAE, que devemos considerar com muito carinho e apoiar com a máxima seriedade, sob pena de perdermos o bonde da história.
Liandro J. Bulegon - Proprietário do Mister X


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