Vinte e cinco anos de Paris
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Como todos os anos. Desde 1991.
Estou em Paris com o poeta Cesar Vallejo na cabeça.
Vallejo sabia que morreria em Paris. Não fugia.
Faz 25 anos consecutivos que caminho pelas ruas da capital francesa em busca de algo.
De 1991 a 1995, morei em Paris.
Voltei no final de 1996 para uma temporada que durou até de março de 1997.
Morei todo o ano de 1998 em Paris.
A partir de 1999, vim uma, duas ou até três vezes em alguns anos.
Trabalho, lazer, amizades, eventos, lançamentos de livros, encontros, debates e reportagens.
Palomas, Porto Alegre e Paris fazem parte da minha paisagem mental.
Meu imaginário.
Paris pergunta pelo Brasil.
Respondo: mais um golpe.
Um golpe de novo tipo.
Pergunto pela França.
Paris responde: mais um golpe. Um golpe contra as leis trabalhistas.
O socialista François Hollande quer facilitar as demissões.
Lei a edição de final de semana do Le Monde, que sai na sexta-feira.
A França debate-se.
Passeio no Jardim de Luxemburgo sob o sol da quase primavera, antes da chuva.
As velhas cadeiras verdes de sempre. Aqui, a tradição não cede aos designers do sempre novo.
Quando o novo irrompe, sacode o mundo, mas compõe o cenário com o antigo.
Almoçamos com Michel Maffesoli e Hélène Strohl.
Maffesoli me oferece seu novo livro, A palavra do silêncio.
Caminho pelas ruas e me pergunto: o que significa o voo lotado para a França?
O que significa o aeroporto de Guarulhos transbordando nos embarques?
Paro e penso numa das epígrafes do novo livro de Michel, uma frase de Thomas A Kempis: "Que todos os doutores se calem. Que todas as criaturas fiquem em silêncio diante de ti. Só quero te ouvir".
Paris é uma cidade como qualquer outra.
Mais uma à esquerda, a torre de Montparnasse.
Mais à direita, a torre Eiffel.
Entre elas, o cerro de Palomas.