Viva o capitalismo (sueco)!

Viva o capitalismo (sueco)!

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Jean Baudrillard me ensinou duas coisas: nunca estar onde me esperam e ser sempre transversal.

Pelo primeiro princípio, trato de decepcionar a todos. Pelo segundo, vou pelas bordas.

Edgar Morin me ensinou a não pertencer a ninguém.

Só a independência me interessa.

Um defensor apaixonado do capitalismo e da democracia como eu só pode ficar decepcionado: o Brasil é o país da corrupção. A delação do empresário Marcelo Odebrecht vai derrubar a república. Atinge políticos de vários partidos. Coloca quase todo mundo no mesmo saco. Um adepto da livre iniciativa e do lucro como eu se entristece ao saber que empresários se mesclam em quadrilhas com políticos para saquear o Estado. Sou um admirador do capitalismo da Suécia. Aplaudo a honestidade, o empreendedorismo, a capacidade de correr riscos e a proteção social aos trabalhadores num regime de equilíbrio entre capital e trabalho. Não suporto hipocrisia nem seletividade. Claro?

Ver deputados tramando na câmara a aprovação de uma emenda que anistia seus crimes pretéritos de caixa dois me enoja. Constatar que o presidente Michel Temer tolera no seu governo um ministro como Geddel Vieira Lima, ex-anão do orçamento e agora denunciado por um colega por tentativa de tráfico de influência, me choca. Saber que Temer tem como líderes na Câmara e no Senado André Moura e Romero Jucá, acusados disto e daquilo, me faz ter ânsia de vômito. Jucá chega ao seu oitavo inquérito. Tudo o que era repugnante nos governos do PT continua a ser praticado só que aparentemente sem grande reação da sociedade. Onde andam os movimentos de moralização? Será que o Brasil verá na mesma prisão Lula, Jucá, Renan, Aécio, Eduardo Cunha, Serra e até, quem sabe, Temer?

O Brasil está à beira do seu abismo. O anão do orçamento Geddel Vieira Lima já encontrou o seu.

Em seis meses, Temer perdeu seis membros do seu ministério ético, entre os quais os impolutos Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves e o agora defenestrado Geddel apartamento em Salvador Vieira Lima.

Parêntese;  Há quem me acuse de petismo e até de comunismo.

Não deixa de ser divertido para um anarco-capitalista como eu, defensor da propriedade privada, com função social, e do liberalismo político e econômico tendo o Estado como indutor, moderador, instrumento social e, nos seus diversos poderes independentes, instância de negociação e resolução de conflitos. É verdade que não entendo liberais em economia sendo conservadores em costumes. Meu slogan é absolutamente liberal: viva e deixe viver. Não consigo compreender a lógica do combate à corrupção de um partido e não de todos. Passa a impressão de que para alguns a corrupção é só um pretexto para extravasar ódios ideológicos. O tríplex de Lula é grave. É mesmo. O apartamento de Geddel seria apenas uma polêmica. O contrário também acontece.

O cara que me considera comunista só pode ter cocô de galinha no cérebro. Sem querer ofender o cocô.

O capitalismo, o menos pior dos sistemas já inventados, é tão complexo que requer políticas de compensação e de moderação dos seus apetites. Os Estados Unidos sabem disso e não se constrangem em criar mecanismos de regulação. A mídia, por exemplo, é regulada na pátria de Donald Trump. Em tudo pode haver pontos negativos e positivos. O pacote do governador Sartori tem razão em fixar o quinhão do judiciário e do legislativo com base na arrecadação efetiva do Estado e não numa peça de ficção chamada orçamento. Um liberal como eu acredita que todos devem ter oportunidades iguais de crescimento na vida e não aceita que o dinheiro, ou os cargos, transforme alguns em privilegiados integrantes de castas. No meu liberalismo social a mão invisível precisa negociar com a mão visível para evitar que tudo seja feito por baixo da mesa. Marcelo Odebrecht pode salvar o Brasil.

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