Longa Jornada Noite Adentro

Longa Jornada Noite Adentro

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Por Luiz Gonzaga Lopes

Tailor Diniz autografa o seu mais recente livro, "Noite Adentro", último da trilogia Fronteiras e Sombras, nesta quarta na Saraiva do Moinhos

Tailor Diniz é um escritor, como Edgar Allan Poe diria no clássico texto "Filosofia da Composição", para ser lido numa sentada: "Se alguma obra literária é longa demais para ser lida de uma assentada, devemos resignar-nos a dispensar o efeito imensamente importante que se deriva da unidade de impressão, pois, se se requerem duas assentadas, os negócios do mundo interferem e tudo o que se pareça com totalidade é imediatamente destruído". Os seus livros são page turner, sem que ele precise ser simples demais ou best-sellerizado. É a literatura na medida certa. Falo isto, após terminar a leitura de "Noite Adentro" (Grua Livros), seu mais recente rebento literário que está sendo lançado nesta quarta-feira, dia 5 de julho, a partir das 19h30min, na Livraria Saraiva do Moinhos Shopping, em Porto Alegre (rua Olavo Barreto Vianna, 36).

 

A fórmula escolhida para a narrativa é de quem faz tudo acontecer num par de horas como num vaudeville de suspense, uma tragicomédia de erros, quase uma história de amor, um livro sobre as diversas fronteiras possíveis, físicas e pessoais. Não à toa que este é o último livro da trilogia Fronteiras e Sombras, iniciada com "A Superfície da Sombra", em 2012, seguida com "Em Linha Reta", em 2014. O primeiro já virou filme nas mãos de Paulo Nascimento. Leia mais sobre Tailor Diniz, os seus processos de escrita, outros livros e sobre a trilogia em textos anteriores do blog pelo http://blogs.correiodopovo.com.br/blogs/livrosamais/tag/tailor-diniz/

 



 

Na história de "Noite Adentro", que poderia ser as 24 horas de "Ulysses", de James Joyce, ou as 18 horas de "Longa Jornada Noite Adentro", que batiza este comentário/resenha, de Eugene O´Neill, estão postos dois delimitadores de tempo e espaço que dão à história o suspense e a quase claustrofobia espaço-temporal necessária de 12 horas da jornada de Antônio Messias quando cruza a fronteira entre o Brasil e o Uruguai, nas cidades de São José dos Palmares e Castillo Blanco (inspiradas em Jaguarão e Rio Branco), das 18h de um dia até as 6h do fim da madrugada de outro. Depois de passar pelos policiais da alfândega dentro de um táxi, Antonio Messias vai visitar o seu amigo Inácio Aramendía em Castillo Blanco, colega da faculdade de jornalismo e militância nos anos 1970, no Brasil, e que agora é homem de confiança e amigo do chefão da região, Don Torté Navaja. A senha para o reencontro é: "Eu-odeio-rock-in-rio!". A contrassenha é "À luta, companheiro!". Aqui uma pausa para dar o tom dos amigos, militantes, afeitos a músicas mais antigas, de luta, e um pouco contra os oitentistas e noventistas, do rock mais mercadológico (grifo meu).

 

A trama que se segue mostra todo o entendimento de Tailor Diniz e do seu narrador sobre os hábitos, costumbres de la frontera, pois os dois amigos, em suas reminiscências, lembranças de uma colega de jornalismo e de militância das antigas, Valentina Torquato, que Aramendía diz ter vivido maritalmente com ele durante 10 anos e Antônio simula uma espécie de amnésia, quando o nome dela é citado. O início da noite é regado a parrillada, vinho, outras bebidas fortes, e Antônio enfim irá conhecer Torté Navaja e sua misteriosa e bela mulher, Clemenza Ruiz. O suspense da noite aumenta quando Antônio se depara na biblioteca da casa do chefão com um livro do poeta e ex-padre nicaraguense Ernesto Cardenal dado por ele a Valentina Torquato. O que o livro faz ali é um dos mistérios do livro. Os detalhes da parrillada, das bebidas, da localidade de Castillo Blanco, a descrição das mulheres que aparecem durante a narrativa, uma boa dose de sexo e traição, além do bom humor, da ironia, das referências literárias (Ernesto Cardenal, Aldyr Schlee) e musicais (Edith Piaf, Cab Calloway, Abel Aznar, Luciano Leocata), todos estes componentes fazem do livro um "Disfrútelo!", como os diversos brindes dados durante as conversações e manjares noturnos dos personagens desta obra, citando ainda o falastrão Gonzalito Magaña, a dona do bordel Batom Vermelho, a argentina Claridad Aguilera e fã do papa Francisco (Tailor estava terminando a história deste livro quando Jorge Bergoglio foi eleito papa em 2013, isto ele me confessou em uma entrevista naquele ano que está no link acima).
Por fim, há que se falar que o livro inicialmente se chamaria "El Penitente", que é um dos mistérios do livro, pois Tailor adora um mistério, leitor que é dos grandes romances policiais de Simenon, Doyle, Poe, Padura, entre outros. Este penitente é citado no livro do meio para o final e a leitura também avança rapidamente, pois o leitor está em busca também do mistério de quem é este personagem, e quem foi Valentina Torquato, qual a história pregressa de Antônio Messias, de Inácio Aramendía, de Torté Navaja, de Claridad Aguilera e se algumas destas histórias serão explicadas ou não. Boa leitura! Todos à Saraiva nesta quarta ou às livrarias nos próximos dias para buscar mais um instigante romance de Tailor Diniz.

 

SERVIÇO

LANÇAMENTO de "Noite Adentro", de Tailor Diniz, com sessão de autógrafos do autor.
Data e horário: 5 de julho de 2017 (quarta-feira), a partir das 19h30min.
Local: Livraria Saraiva – Moinhos Shopping (Rua Olavo Barreto Viana, nº 36 - Porto Alegre - RS).
Preço: R$ 36,00 (exemplar) / Romance / Formato: 14 x 21 cm / 176 páginas / ISBN 8561578637
Mais pelo http://www.grualivros.com.br/

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