O eu versos de um poeta
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Antes de descrever um pouco mais a minha relação aurática com a obra (à maneira de Walter Benjamin), a jornalista e escritora Eliane Brum já deu sua sentença na contracapa da obra: "Demétrio de Azeredo Soster faz lindamente esse percurso em busca de representar o irrepresentável. Captura o cotidiano em letras, carregando neste ato a coragem e a tragédia daqueles que sabem que a vida escapa desse corpo simbólico e nos devolve ao silêncio de onde de novo nos arrancamos em nossa pungente travessia”. Dois outros poetas carimbam a maestria do eu versos de Demétrio. Jaime Vaz Brasil diz que o poeta "domina o ofício de escrever com a simplicidade e eficiência que só aos grandes costuma acompanhar. Eis um artista que maneja a palavra com a segurança dos maestros. Um autor que veio para ficar em nossa literatura". Nei Duclós, também romancista carimba assim a obra: "...o poeta nos brinda com sua indisposição diante do pronto e acabado. E abre o leque da palavra numa estação que se anuncia. O verso é chuva miúda a derramar-se sem ruído. Poesia com a grandeza de quem não se rende. Drible na morte, sabendo que ela vence”.
Quanto a mim, depois destes três grandes atestados com firma reconhecida, tento ainda pescar um ou dois poemas para intermediar o autor e o leitor neste humilde blog literário. Poderia ser acadêmico ou técnico, mas não quero falar do sentimento em relação à poesia de Demétrio, cujo seu eu versos parece diferente da pessoa, esta mais pragmática e aquela mais voo leve por vezes rasante, mas que parecem se completar em poemas como "sentidos":
"Uma frase
que não faça
sentido
um dizer
que não saiba
ser dito
um dia que
não tenha
nascido."
Os poemas de Demétrio por vezes são visuais, por outros instantes tem a concisão de um haikai como em "vontade vazia":
"segredos revelados
à mesa.
um desejo
do que quer que seja."
Finalmente temos o Livro da Morte, onde aparecem as palavras "roucas e duras" preconizadas por Drummond no poema epigráfico. À maneira dos grandes poetas que lidam com as perdas de forma pungente e lírica, Demétrio anda na corda bamba que divide à ávida vida e lúgubre morte, como em "o dia que você se foi":
"o corpo estendido
no fundo da piscina
o silêncio que sentencia
o vazio, a saudade, o medo
o tempo dito em segredo."
Com capa assinada pelo grande Gabriel Renner, ilustrador, infografista, designer e quadrinista, outro ex-parceiro de Grupo Sinos, na qual a mulher e a árvore são signos a novamente validar a poesia de Demétrio como uma coisa quase aérea que nos conduz a algo mais acima do que esta existência por vezes assolada pela violência, tragédias e sensacionalismo deste mundo digitalizado e interconectado. Fujo da figura do antídoto, mas Demétrio tem o remo para suavizar a nossa travessia.
SERVIÇO
O quê: Lançamento e sessão de autógrafos do livro "Quase Coisa", de Demétrio de Azeredo Soster, com pocket show de Killy Freitas
Quando: Sexta, 16 de outubro, às 19h.
Onde: Palavraria Livros & Cafés (Vasco da Gama, 165)
Mais: Fones (51) 9995-0106 e 3715-8850 ou e-mail dsoster@uol.com.br.