"O que mais os tradutores buscam é o reconhecimento da profissão"

"O que mais os tradutores buscam é o reconhecimento da profissão"

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A secretária-geral da Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes (ABRATES) fala do Dia da Tradução e das demandas e lutas da entidade e dos profissionais

Por Luiz Gonzaga Lopes

Este dia 30 de setembro é o Dia Internacional da Tradução, que remete à morte em 419 ou 420 d.C. de São Jerônimo, o tradutor da Bíblia do grego e do hebraico para o latim, a Vulgata. A data é comemorada oficialmente desde 1991 por ação da Federação Internacional dos Tradutores, sempre com um tema específico. Neste ano, a campanha internacional é "Direito à Linguagem: Essencial a todos os Direitos Humanos". No Brasil, a campanha é intitulada Nome do Tradutor e foi organizada pela Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes (ABRATES), em conjunto com o Sindicato Nacional dos Tradutores (Sintra) e outras entidades e profissionais. Em linhas gerais, a campanha exige que seja cumprida a Lei dos Direitos Autorais, de número 9.610, de 1998, assegurando ao tradutor os mesmos direitos morais e patrimonais concedidos ao autor da obra original. O principal direito moral é ver seu nome ligado à obra criada. Para marcar a data, reproduzimos na íntegra a entrevista com a secretária-geral da ABRATES, Iara Regina Brazil, gaúcha de Porto Alegre, que fala sobre o que há a comemorar, as lutas da entidade, a campanha Nome do Tradutor, a representatividade nos estados e regiões, os congressos e como o tradutor pode se associar à entidade.

Livros A+ - Neste dia 30 de setembro, comemoramos o Dia Internacional da Tradução. O que há para se comemorar nesta data?

Iara Regina Brazil - Acho que há algo muito importante a comemorar: uma representatividade cada vez maior para os tradutores e intérpretes. A Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes -  ABRATES - têm tornado estes profissionais cada vez mais visíveis. Quanto mais visíveis estivermos, mais poderemos lutar para que nossa "voz" seja ouvida nos órgãos competentes. A luta pela inclusão dos tradutores e intérpretes no regime Simples de tributação foi uma grande batalha, mas a guerra ainda não acabou. Nossa nova luta é para diminuir a alíquota de cerca de 17% para 4%. Num esforço conjunto com o Sindicato Nacional dos Tradutores (Sintra), esperamos conseguir este objetivo. Cada vez mais os tradutores deixam de ser "invisíveis", profissionais que trabalham no seu mundinho, no seu computador. O âmbito da profissão se alastra com o aumento da visibilidade e representatividade, aumentando também a união da classe.

 

Livros A+ - As principais lutas da Abrates para dar visibilidade ao tradutor passam também por uma representatividade maior?

Iara - A ABRATES está empenhada em "acolher" a todos os tradutores do Brasil. Em 2013, foi criada a figura do "representante regional" da Entidade, em cada região do Brasil. Assim, nenhum tradutor se sente isolado ou não representado por atuar ou morar longe da sede (no Rio de Janeiro). Os representantes regionais, além de realizarem eventos locais, cursos, ciclos de palestras de interesse do mercado local e encontros sociais para troca de ideias, são também grandes emissários das reivindicações, sugestões e críticas dos tradutores que moram/atuam distante dos grandes centros. Eles também dão ideias de como fortalecer o mercado em cada região. Temos, hoje, uma ABRATES muito menos concentrada nos grandes centros, mais atenta às reivindicações da classe como um todo, empenhada em promover a união para que, juntos, conquistemos ainda mais por todos os tradutores e intérpretes. A atual presidente da ABRATES, Liane Lazoski, em entrevista recente para a revista Veja, mostrou o "caminho das pedras" para quem quer ser tradutor (juntamente com representantes de outras entidades). Hoje, dou esta entrevista para ti -- e me disponho, desde já, a ajudar no que precisares sobre tradução/interpretação aqui no RS ou no âmbito nacional. A campanha Nome do Tradutor tem a ver com um direito, por lei, à visibilidade. Vou falar dela abaixo.

 

Livros A+ - Fale-nos um pouco da campanha Nome do Tradutor e de outras campanhas da Abrates.

Iara - Um pouquinho sobre a Campanha Nome do Tradutor: O que é a Campanha Nome do Tradutor? É simples: o tradutor, de acordo com a Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610 de 1998 - LDA), é AUTOR de obra derivada, o que lhe atribui direitos morais e patrimoniais, os mesmos direitos conferidos ao autor da obra original. O principal direito moral do autor, e também do tradutor, é ver seu nome ligado à obra criada. Esse direito persiste mesmo quando o contrato entre editora e tradutor inclui a cessão total e definitiva dos direitos patrimoniais, pois é inalienável e irrenunciável.Fizemos uma pesquisa em algumas livrarias virtuais e, na maioria delas, encontramos obras que têm o nome do tradutor citado, mas isso não acontece com todos os títulos. A Campanha tem como ação principal o envio de uma carta, elaborada por nossa consultora jurídica, a diversas editoras e livrarias virtuais, como a recém-chegada Amazon, ressaltando a obrigatoriedade da citação do nome do tradutor já na descrição da obra, de preferência junto ao nome do autor, o que permitirá a busca de títulos inclusive usando o nome do tradutor. Isso já ocorre em alguns títulos. Queremos que ocorra em todos e se cumpra a lei para todos os tradutores. Além do envio de cartas, as ações incluirão mensagens no Twitter e no Facebook usando uma arte específica (que envio aqui, em anexo), com o mote da campanha: “Todo livro tem um autor, todo livro traduzido tem um tradutor”, com o lembrete: “Não se esqueça de mencionar o nome do tradutor.” e as hashtags #nomedotradutor,#cadeotradutor e #quemtraduziu, direcionadas não só às empresas, mas também ao público em geral, que nem sempre se dá conta de que há um tradutor por trás daquele livro que ele adora. Garantir o direito do tradutor e dar maior visibilidade ao nosso trabalho junto ao público são os principais focos da Campanha Nome do Tradutor.

 

Livros A+ - E os congressos, o que têm discutido, quando acontecem, reúnem quem e quem organiza?

Iara - A ABRATES realizou no final de semana de 20 e 21 de setembro o V Congresso Internacional de Tradução e Interpretação. Este é o quinto ano de congresso, mas o primeiro em que realizamos o evento anualmente, considerando-se que o IV Congresso foi em 2013, em Belo Horizonte. Depois do sucesso de BH, com mais de 300 tradutores reunidos numa cidade fora do eixo RJ-SP, o Congresso voltou ao Rio e foi um sucesso estrondoso: reunimos cerca de 500 tradutores num fim de semana. A programação e a temática variam a cada ano, mas sempre procuramos trazer pelo menos um palestrante de renome internacional e um de renome nacional, além de vários colegas, dentre convidados e que enviam propostas interessantes para debate. Neste ano, nossos palestrantes principais foram: a escritora e tradutora Chris Durban (americana, residente em Paris), que dá palestras pelo mundo afora sobre tradução, interpretação e mercado, e o Cap. Israel Alves de Souza Júnior, pertencente ao Quadro Complementar de Oficiais (QCO), integrante da equipe da Divisão de Tradutores e Intérpretes do Centro Conjunto de Operações de Paz no Brasil (CCOPAB). O capitão participou da Missão da ONU para estabilização do Haiti, iniciada em 2004 e ainda em curso. Seu relato da atuação dos tradutores e intérpretes no Haiti foi emocionante e muito aplaudido. Quando acontecem os congressos? As datas variam anualmente. Onde acontecem? Como se pode ver pelos exemplos dos dois últimos congressos, não há local fixo previamente definido. Numa votação durante o V Congresso, os associados escolheram São Paulo como sede do próximo, a se realizar em 2015. Nossa meta para o próximo ano é reunir 1000 pessoas, entre profissionais e empresários da tradução. Ainda não temos data definida, assim que tivermos mais detalhes entraremos em contato. Quem reúnem os Congressos? De estudantes de tradução e/ou interpretação a tradutores veteranos, procuramos sempre ter uma programação recheada de opções para todos os públicos. Também vêm empresas do ramo, dispostas a contratar freelancers e entrar em contato com profissionais. Quem organiza? A ABRATES. Onde saber das novidades sobre o próximo congresso? Convido os colegas a "curtirem" a página da ABRATES no Facebook (www.facebook.com/Abrates), a "seguirem" a ABRATES no Twitter (@_abrates) e acessarem nosso site (www.abrates.com.br). As últimas notícias da ABRATES são sempre divulgadas primeiro nas mídias sociais, depois no site.

 

Livros A+ - E os tradutores gaúchos, como estão organizados. Existe alguma ideia de uma associação estadual ou gaúcha?

Iara - Os tradutores gaúchos estão representados na ABRATES pela Regional Sul. Eu mesma, residindo em Porto Alegre, fui representante desta Regional, até a eleição da atual diretoria nacional (2014). A partir da qual fui eleita  para ocupar o cargo de Secretária Geral da Entidade.  Promovi vários encontros em Porto Alegre e Gramado, reunindo tradutores locais para troca de ideias. A atual representante regional, a colega Sheila Gomes, residente em Curitiba, realiza encontros semelhantes e está pronta a atender as reivindicações, receber sugestões e ajudar em lutas que os tradutores gaúchos julguem pertinentes, tanto no âmbito local quanto nacional. Seu e-mail de contato é: contato@multitude.trd.br. Está nos planos para os próximos meses a realização de encontros de tradutores aqui no RS, reunindo os colegas locais. Ela virá de Curitiba especialmente para isso, em breve. Esses encontros já são realizados há algum tempo em Curitiba com sucesso. As trocas de ideias são sempre ricas e animadas. Achamos fundamental que estas ações locais sejam veiculadas na grande mídia. Além da representatividade regional da ABRATES, existe a Associação de Tradutores Juramentados do RS (ASTRAJURS), que cuida dos interesses, reivindicações e encontros de tradutores juramentados. Para contato com a ASTRAJURS, recomendo Luiz Augusto Ferreira Araújo.

 

Livros A+ - Como está a evolução do ofício do tradutor e do tema da tradução no Brasil, tanto em pesquisas, editoras e recepção pelo leitor, crítica e meios especializados? Algumas outras considerações são bem-vindas.

Iara - O que mais os tradutores buscam é o reconhecimento da profissão e do profissional por trás da tela do computador. Por trás de um filme que assistimos, seja ele legendado ou dublado, existe um tradutor. Por trás de cada livro traduzido, existe um tradutor. Só o reconhecimento pode nos levar a alçar voos cada vez maiores, rumo a conquistas de interesse da classe. Consequência natural do reconhecimento é nossa valorização profissional e a melhoria das condições de trabalho para todos os colegas. Incluo nesta resposta conquistas da atual diretoria da ABRATES, atendendo a reivindicações de colegas: seguro de vida e auxílio funeral para associados (já incluso na anuidade) e consultoria jurídica especializada em direitos autorais e contratos. Estamos em busca de parceiros para um plano de saúde especial para associados também. Fora isso, associados da ABRATES têm: desconto no valor de inscrição nos Congressos e cursos promovidos pela ABRATES, desconto em seguro de automóveis, desconto na aquisição de livros, pacotes de hospedagem com desconto e facilidades para aquisição de aparelhos auditivos. A ideia é fortalecer e expandir estas parcerias para que possamos reunir cada vez mais tradutores e tenhamos mais força como classe.

 

Livros A+ - Como o tradutor pode associar-se à Abrates?

Iara - Para se associar à ABRATES é necessário acessar o site www.abrates.com.br, menu "Associe-se", página "Filiação". O tradutor preenche a ficha, digitaliza e envia por e-mail para secretaria@abrates.com.br, incluindo no anexo do e-mail também um documento de identificação com foto (tudo digitalizado, por e-mail).

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