Uma rosa dos ventos atuais

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"É por isso que Porto Alegre e eu, nós quebramos os pratos às vezes, mas voltamos a nos entender" - "Porto Alegre" - crônica de Carol Bensimon em "Uma Estranha na Cidade"



Carol Bensimon lança seu primeiro livro de não ficção "Uma Estranha na Cidade" nesta terça, na Palavraria



Por Luiz Gonzaga Lopes



Muitas vezes já me perguntei e já fui perguntado sobre o que há de especial na escrita de Carol Bensimon (Pó de Parede, Sinuca Embaixo D´Água e Todos Nós Adorávamos Caubóis). Para o leitor comum, talvez não haja nada especial, apenas mais um texto sintonizado com os ventos da pós-modernidade e da revolução digital. Para um leitor médio, talvez a sintonia seja um pouco maior, haja um estilo comprovado, algum floreio e um compromisso com algo maior. Para o leitor contumaz (entre estes preciso me encaixar agora, sob pena de não conseguir definir a autora como ela bem mereceria), Carol é uma rosa dos ventos atuais, que nos indica um norte, um sul, uma observadora e fundamentadora pela escrita de todos estes movimentos de apoio ao que é diverso, estranho, do respeito a quem não se enquadra nas normas, da valorização de tudo o que foi construído, seja de patrimônio histórico ou imaterial, seja qual for o gênero, opção religiosa, musical ou sexual. Carol é esta sintonia fina e a comprovação nos vem com este “Uma Estranha na Cidade” (Dublinense, 144p.)  seu primeiro livro de não ficção que tem lançamento nesta terça-feira, às 19h30min, na Palavraria (Vasco da Gama, 165).


FILTRO


Cronicamente viável é este mundo que Carol Bensimon nos propõe, assim como eram ficcionalmente aceitáveis as suas três narrativas anteriores. Com Carol, temos acesso a um mundo que talvez vejamos parcialmente e que nos fica bem mais claro com o seu filtro de Kronos: “Uma boa maneira de medir a civilidade de um determinado lugar é observar como o pedestre é tratado nesse lugar”, é a sentença inicial da crônica “O Pedestre”. Parece contraditório que seja necessário que uma ou uma dezena de cronistas precisem nos dizer o óbvio que “o sinal no fundo está dizendo: você é um cidadão de segunda classe”, quando está correndo pela vida em dez míseros segundos destinados seu livre ato de atravessar a rua. A cronista escreveu este texto em San Francisco, nos EUA, onde nunca levou mais de um minuto para atravessar uma rua. Muitas vezes precisamos do cronista para nos sentirmos vivos ou para valorizarmos aquilo que alguns acabam desconsiderando ou sufragando diante da especulação imobiliária, como as casas da rua Luciana de Abreu. Carol é otimista, quer citar exemplos de conservação do patrimônio, da convivência entre empreendimentos e casas preservadas.


ESTRANHEZA


Carol nos põe em contato com o arquiteto, o filósofo ou a psicóloga que talvez ainda não tenhamos lido, a obra em inglês, o documentário canadense ou alguma estranheza ou virada de vento, que ainda não pudemos ter ou perceber, pela nossa pressa em cumprir horários, expectativas, sonhos próprios. É capaz de crônicas tão díspares como “Menos Plástico, Mais Amor” - condenando o exagero da descartabilidade e da hiperassepsia em nome do exagero plástico, além das sacolas de supermercado que separam demais e não permitem a união em torno do bom senso – e “Os Descuidados Anos 90”, que resume os atos de uma geração e também o que seria um bom bar (partindo do modelo A Garagem Hermética, já retratado por Leo Felipe em “A Fantástica Fábrica): “Bar bom era música boa, cerveja ruim e parede ruindo. Noite boa era na sarjeta com os amigos bebendo vinho de garrafão”. O seu texto não é asséptico, é vivo, se inebria, tem a solas gastas. Carol ainda é jovem, mas carrega consigo a arguta observação do sábio, o que vê sem precisar fazer um grande esforço. Tem também uma crônica de amor e DR com Porto Alegre, cuja epígrafe antecede este texto, outra sobre Moleskines e ainda mais uma sobre ofurô. Os temas se multiplicam à velocidade de um Gremlin molhado.


A PONTE


Enfim, além de toda a observação do cotidiano, Carol tem uma ligação forte com os Estados Unidos. Fala de cidades pequenas, fantasmas (o caso da abandonada Bodie, no ensaio "Bodie, Califórnia"), de drogas, de música, de universidade pública, de bissexualismo, do american e do brazilian way of life e faz a ponte entre um e outro. Ela tem em suas letras, letters, endereça cartas crônicas para que os leitores sejam mais eles mesmos e menos influenciáveis. É uma estranha na cidade, mas é uma íntima na sua primeira-pessoalidade.



SERVIÇO


LANÇAMENTO DE UMA ESTRANHA NA CIDADE, com sessão de autógrafos da autora.


Data e horário: 22 de março de 2016 (terça-feira), a partir das 19h30min


Local: Palavraria (Rua Vasco da Gama, nº 165 – Bom Fim – Porto Alegre – RS).


 Preço: R$ 36,90 (exemplar) / Crônicas / Formato: 14 x 21 cm / 144 páginas / ISBN 978-85-8318-073-9


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