À espera de notícias sobre o futuro do Everest

À espera de notícias sobre o futuro do Everest

Em uma das áreas mais valorizadas de Porto Alegre, o antigo hotel deve se tornar um residencial. Ainda que seu futuro seja promissor, não se conhece a data da assinatura do contrato para revitalização e reabertura do espaço

Felipe Falero

Atualmente, suas portas estão trancadas

publicidade

Outrora símbolo de requinte, o Hotel Everest, localizado no coração do Centro Histórico, na rua Duque de Caxias, em uma das áreas mais valorizadas de Porto Alegre, hoje é uma sombra de sua antiga glória, mas seu futuro tem potencial promissor. Está cada vez mais próxima a assinatura do contrato de revitalização e reabertura do espaço.

Ali, haverá um residencial administrado pela empresa Housi, gerenciadora também do antigo Plazinha, hoje Infinita TOWN.CO, na rua Senhor dos Passos. Procurados para se manifestar a respeito do projeto, os administradores preferiram não se pronunciar, dizendo que “não há muitas informações” até o ato de assinatura em si. Fato é que o Everest fica em uma região considerada estratégica da Capital, a uma quadra da Praça da Matriz, do viaduto Otávio Rocha e das sedes dos três poderes gaúchos, o Palácio Piratini, a Assembleia Legislativa e o Palácio da Justiça.

Mas, atualmente, suas portas estão trancadas e a entrada do edifício, onde fica a marquise, é frequentada somente por moradores de rua. Trabalhadores de empreendimentos próximos relembram que, em seu auge, o Everest foi parada obrigatória de celebridades como Roberto e Erasmo Carlos, Elis Regina, além dos atores Tarcísio Meira e Glória Menezes, entre diversos outros, quando vinham a Porto Alegre.

Com 156 apartamentos, o tradicional hotel foi fundado em 21 de maio de 1964, por Alberto Augusto Fett, e mantinha uma fama de sofisticação até seu fechamento, em setembro de 2020, no contexto das restrições mais duras da pandemia da Covid-19, que atingiu em cheio o segmento turístico em todo o mundo. Antes, em junho do mesmo ano, o outro empreendimento do mesmo grupo, no Rio de Janeiro, igualmente mantido pela família Fett e inaugurado em 1975, já havia fechado as portas. 

Em uma das últimas ocasiões com portas abertas, o Everest de Porto Alegre comercializou a preços simbólicos parte de seu histórico acervo, assim como itens que compunham os apartamentos, incluindo eletroeletrônicos, obtendo relativo sucesso.
O local foi vendido por R$ 50 milhões. Os apartamentos ficavam entre o 3º e o 8º e do 10º ao 15º andares. Havia três salões, nomeados Rio Grande do Sul, Duque de Caxias e Erico Verissimo e todos de uso para eventos sociais.

O hotel ainda contava com salas de jogos e fitness, bem como o Business Center, com cinco salas para ações empresariais com capacidade máxima de até 60 pessoas. Outro dos grandes destaques do Everest era seu restaurante, localizado no 16º andar, com vista panorâmica do Guaíba e de grande parte do Centro. De certa forma, a transformação do local em residencial representa um retorno ao que o Everest era no início, já que ali havia residências quando de sua inauguração. 

Em artigo apresentado ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Propar/Ufrgs), em 1999, a arquiteta Clarissa Martins de Lucena Santafé Aguiar, hoje doutora em Arquitetura pela mesma universidade, contou que os empreendedores aproveitaram vantagens fiscais oferecidas pelo governo, a exemplo de isenção de impostos, para promover esta transformação do local em hotel.

Em janeiro deste ano, a Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), aprovou o alvará de construção para reciclagem de uso do Everest, sem alterações da estrutura e arquitetura da edificação. “O empreendimento atende a quesitos técnicos dispostos na Lei Complementar 930, de dezembro de 2021, que instituiu o Programa de Reabilitação do Centro Histórico de Porto Alegre e propõe a transformação urbanística do bairro”, enfatizou, na época, o titular da pasta, Germano Bremm.

A ideia é converter o terraço em um conceito de rooftop e realizar o retrofit nas fachadas em quatro blocos. Ainda conforme a administração, está proposta também uma zona de comércio, com acesso principal pela escadaria da avenida Borges de Medeiros, onde funcionará ainda um pequeno museu, contando a história do prédio, do entorno e da época em que foi edificado. Estas áreas serão de utilização pública.

O bloco A, edifício residencial com 30 apartamentos virado para a Duque de Caxias, não será modificado. O empreendimento, cujas obras serão feitas pela Infinita Incorporadora, deve gerar 400 empregos e 211 novas opções de moradias, em um investimento de R$ 85 milhões. Ainda que tenha havido este fechamento em 2020, até 2022 foram abertas 3.019 empresas do segmento turístico em Porto Alegre, representando um aumento de 14,4% nesta comparação, segundo dados divulgados no final de outubro pela então recém-lançada Aliança pelo Turismo.

Até o final de 2024, a iniciativa, formada por entidades como o Sebrae-RS, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Sindilojas-POA, Pacto Alegre, CDL POA, Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), entre outros, pretende ampliar o número de visitantes na Capital em 15% em relação ao final de 2022. Conforme o Painel da Hotelaria, iniciativa da prefeitura com apoio da iniciativa privada, Porto Alegre tem 306 hotéis ou alojamentos, dos quais 81 estão no Centro Histórico, gerando mais de 3,8 mil empregos na cidade.

Enquanto prossegue a especulação em torno do empreendimento, há algumas dúvidas sobre como será a gestão do local a partir de sua revitalização. Informalmente, o assunto gera polêmica e quem fala diz que as novidades são escassas. Os investimentos são justificados pela localização privilegiada do empreendimento e acesso facilitado aos principais pontos de referência do Centro Histórico. No entanto, dado o silêncio dos empreendedores, é uma incógnita se o Hotel Everest terá tração para retornar à glória dos áureos tempos.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895