Curiosidades em túneis subterrâneos de Porto Alegre

Curiosidades em túneis subterrâneos de Porto Alegre

Debaixo da chaminé do Shopping Total, caminhos envoltos em lendas guardam partes da história da Capital

Paula Maia

Atualmente, os corredores subterrâneos, com quase 400 metros de extensão, são preservados

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Porto Alegre é repleta de encantos e mistérios. Diversas construções da Capital contam um pouco da história e da evolução da cidade. Algumas trazem mistérios e são envolvidas em lendas e superstições. Exemplos de locais que misturam cultura, história e mistérios, e que promovem uma conexão com o passado, são os túneis da Chaminé do shopping Total que já abrigaram antigas cervejarias, como a Bopp, Cervejaria Continental e Brahma. Além das lendas que envolvem o local, os túneis são espaços vivos do início da indústria cervejeira de Porto Alegre. No começo do século XIX, dezenas de fábricas de cervejas estavam instaladas na Capital e se mostravam um mercado promissor, disputando espaço com o vinho e destilados de cana. 

O projeto arquitetônico da cervejaria Bopp Irmãos é de Theodor Wiederspahn. A construção foi inaugurada em 27 de outubro de 1911. As fachadas são compostas por grandiosas estátuas de cunho mitológico que simbolizam a produção da bebida. A estrutura de alvenaria de pedra e tijolo maciço, aliada à estrutura de concreto armado, foi uma grande inovação para a época. 

Nesse período, a Cervejaria Bopp Irmãos produzia 30 mil garrafas de cerveja por dia e seus depósitos de tonéis de aço esmaltado tinham capacidade de armazenamento correspondente a 800 mil garrafas. A fábrica tinha dez veículos que realizavam a distribuição da cerveja em Porto Alegre e no interior do Estado.

Devido ao crescimento dos negócios, uma primeira chaminé foi inaugurada em 1912. Ela tinha 2,90 metros de base e 35 metros de altura, mais um trecho subterrâneo de 3,15 metros de altura e 4,20 x 4,20 metros de base. Foi só em 1940 que a atual chaminé, com 86 metros, juntamente com as novas caldeiras, foi construída. Seria dessa época a construção da rede de galerias que se conserva até hoje. 

Atualmente, os corredores subterrâneos, com quase 400 metros de extensão, são preservados como um tesouro histórico. Caminhar pelos túneis da chaminé do shopping Total é uma verdadeira viagem no tempo. Os corredores em baixo da chaminé já abrigaram um restaurante, os proprietários fizeram adaptações e reformas para adequar-se à atividade com alimentação, mas as estruturas originais foram preservadas. Hoje o local está vazio e a administração do shopping espera ter em breve um novo empreendimento no local. Como os túneis passam por diferentes lojas, a intenção é de ampliar a integração entre os espaços comerciais e os caminhos subterrâneos para manter viva a herança histórica e os mistérios que envolvem os túneis.

A aposentada Carmen de Zorzi estava ansiosa para participar de um dos passeios pelos túneis da chaminé e ficou admirada com o que presenciou. Ela relacionou a sensação de entrar nos túneis como uma viagem no tempo em que o passado ganha vida e desperta emoções únicas e difíceis de descrever. Júlio Trindade também ficou fascinado. Ele afirmou que não os vê apenas como relíquias históricas, mas como um enigma a ser desvendado, um convite para imaginar o propósito subjacente à construção desses corredores subterrâneos. “Gostaria de ter acesso ao diário da pessoa que teve a ideia de construir esses túneis.”

O mistério em torno dos túneis encanta também quem trabalha no shopping. Fábio Garcia é gerente do Boteco Super Bom, que fica em cima de uma parte desses corredores. Garcia relata que os clientes frequentemente discutem teorias sobre a possível utilização desses túneis como rotas de fuga durante a Segunda Guerra, além de serem possíveis passagens para embarcações ou tubulações de água. “Vários clientes que vêm aqui na casa pedem para olhar. É muito interessante trabalhar em um lugar que teve um ponto histórico dessa magnitude”. 

Silvia Rachewsky, gerente de marketing do Total, apaixonada por guiar visitantes pelos labirintos subterrâneos, ressalta que as caminhadas pelos túneis despertam curiosidade e as lendas sobre sua extensão e que a iniciativa teve início antes mesmo da inauguração do shopping, em 2003. “Quando se fala em mostrar os túneis, fica aquele fascínio, porque existe uma história, mas também existem as lendas. A maior lenda é que esses túneis saem lá do Hospital Moinhos de Vento até o Guaíba, se é verdade ou não, ninguém sabe, porque ninguém escavou”. 


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