Futuro do Parque Harmonia em debate

Futuro do Parque Harmonia em debate

Concessionária faz obras no local que passará a se chamar Parque da Orla, com previsão de conclusão em 2027

Christian Büeller

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Um dos parques mais conhecidos de Porto Alegre já não é mais o mesmo. Tradicional espaço onde acontecem os acampamentos farroupilha na cidade, o Parque Harmonia, no bairro Praia de Belas, passa por obras desde o final do ano passado. Concessionária do local desde 2021, a empresa Gam3 Park, que também gere o Trecho 1 da Orla do Guaíba, desenvolveu o projeto do Parque da Orla com o intuito de ser o “maior complexo turístico entre capitais no país”. Para isso, prevê investimento de R$ 281,1 milhões até 2027, após quatro fases de melhorias.

No entanto, os maquinários que fazem fila no parque em dias de sol e a presença de cimento onde um dia era apenas terra, em alguns trechos do lugar, têm trazido desconfianças por parte de moradores dos arredores, frequentadores e ambientalistas. É o caso do biólogo, especialista em Análise de Impactos Ambientais, Francisco Milanez. 
Ex-presidente e atual conselheiro da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), questiona o que tem visto no Harmonia. “Ao invés de se entrar em sintonia com que a humanidade está se dando conta, que seria ‘esverdear’ a cidade, que é o importante, as pessoas estão asfaltando o parque. A cidade já tem pouca área verde”, comenta. Milanez destaca que Porto Alegre já foi a primeira capital com planejamento de árvores de rua, mas, atualmente, a realidade é outra. “Elas estão sendo dizimadas. O Parque Harmonia foi destinado, além do aproveitamento da natureza e do desenvolvimento do bem-estar dos cidadãos, para o culto das tradições gaúchas. Mas isto nada tem a ver com asfalto”, exclama o ambientalista. 

Milanez chama de desvirtuamento a troca de nome – de Harmonia para Parque da Orla – e a mudança das características do espaço. “É até uma ignorância o que se faz nesses casos porque as pessoas sintonizadas com a realidade mundial ficam chocadas.” O especialista também critica o poder público por não consultar a população sobre o empreendimento. “A função do governante é obedecer à vontade popular. Estamos vivendo um momento muito triste, que é de regressão das conquistas ambientais que tivemos”, lamenta Milanez. O prefeito Sebastião Melo argumentou, na ocasião da oficialização da concessão à Gam3, que “as concessões são importantes ferramentas para a implantação de políticas públicas. Essa assinatura fortalecerá a economia e vai trazer um potencial turístico importante para Porto Alegre”.

Mais Arborizada

A equipe ambiental da GAM3 Parks informa que um levantamento de cobertura vegetal do Parque Harmonia identificou 1.361 vegetais na área quando assumiu a concessão. No seu projeto de revitalização do parque, está previsto o aumento de cerca de 107% de árvores nativas, chegando a 2.820. “Nossa proposta desde o início é criar um parque integrado com a natureza. Portanto, possuímos um grupo ambiental para planejar e criar ações visando a ampliação da cobertura vegetal”, destacou a diretora administrativa da GAM3 Parks, Carla Deboni. 

A empresa explica que alguns vegetais terão que ser retirados, muitos deles devido ao estado fitossanitário ruim e/ou com risco de queda. Aqueles que foram removidos são considerados “estritamente necessários” pela concessionária, que possui autorização dos órgãos ambientais, além de uma equipe de biólogos dedicados ao acompanhamento. “Durante nossos estudos não pensamos apenas em compensar aqueles vegetais que foram removidos, queremos ampliar essa cobertura e dar prioridade a árvores nativas, fortalecendo o bioma natural da região”, ressaltou Piettro Kayser, conselheiro da GAM3 Parks e responsável pela equipe ambiental. 

A previsão de conclusão total do Parque da Orla é para 2027, então, muito em breve, uma maior quantidade de área verde com características da fauna local estará presentes no Parque Harmonia. “Esse processo beneficia não só a fauna do parque, mas também a população, que terá à sua disposição um ambiente mais florido e seguro para ser frequentado”, concluiu texto enviado pela GAM3. 

Segundo informações da empresa, os acampamentos farroupilhas continuarão ocorrendo no parque mesmo durante a concessão, que tem contrato de 35 anos, podendo ser renovável por um período de duração igual. O Parque da Orla prevê uma roda-gigante de 66 metros de altura, montanha-russa, mirante, passarela de acesso ao Trecho 1 da orla, Parque Terra dos Dinossauros, arena de rodeios, dezenas de operações comerciais e Casa do Gaúcho, tradicional espaço para eventos na Capital, que abrigará eventos para até 3,5 mil pessoas.


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