Olímpico vive cenário de abandono e insegurança em Porto Alegre

Olímpico vive cenário de abandono e insegurança em Porto Alegre

Antiga casa gremista há mais de uma década se desgasta diariamente

Felipe Faleiro

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Outrora palco de inúmeras glórias tricolores, o Olímpico Monumental é hoje um cenário abandonado, uma nódoa na paisagem de Porto Alegre. À medida que imperam a burocracia e o empurra-empurra do poder público sobre o local, a antiga casa gremista no bairro Azenha há mais de uma década se desgasta diariamente, provocando preocupação entre vizinhos, que relatam a sensação de insegurança e a circulação de usuários de drogas.

Uma comerciante na rua José de Alencar, onde antes era a entrada principal do Olímpico, relatou que a situação é “horrível”. “Se falava que o estádio seria implodido, mas não foi feito. A prefeitura diz uma coisa e faz outra. Antigamente, os ônibus faziam excursão para cá, era muito bom, aqui tinha vida. Agora, está tudo abandonado”, comentou ela, que não quis se identificar.

Já o empreiteiro João Carlos de Oliveira, morador próximo, afirma que a iluminação pública é precária. Conforme ele, sair de casa à noite é tarefa para poucos. “Até não há tantas ocorrências de assalto, mas queremos nos prevenir”, relatou Oliveira. Colega de profissão de João, Márcio Bernardes Chaves está reformando uma sala na mesma rua para abrir um restaurante em breve. “Mas sei que vai ser um negócio arriscado. Outro problema é a proliferação do mosquito da dengue. Peguei a doença há pouco tempo e tenho certeza que veio dali”, afirma Chaves, apontando para as ruínas. 

Na avenida Carlos Barbosa, a metalúrgica comandada por Marcelo Antunes e seu pai, João de Deus Ferreira, inaugurou em meados de 2013 em um imóvel de frente para a antiga Churrascaria Mosqueteiro pouco depois da desativação do estádio, ocorrida em 2014. “Uma vez um homem rasgou a lona da fachada e entrou no quarto aqui em cima, mas não levou nada. Fora isso, o Olímpico é um grande espaço e a situação dele não se resolve”, lamenta Antunes, que também alega o tráfego em alta velocidade de veículos, especialmente à noite. “Precisávamos de um ou mais quebra-molas”, sugere. 

Frente Parlamentar 

A Câmara Municipal instaurou, no final de maio, a Frente Parlamentar para Discutir a Situação do Estádio Olímpico, mais de dez anos depois da última partida do estádio, Grêmio x Veranópolis, válida pelo Gauchão, em fevereiro de 2013. A iniciativa da frente foi do vereador Cassiá Carpes. “É um bairro bom de morar e de comércio e, depois que o Grêmio saiu dali, praticamente sumiu, diminuiu sua potencialidade. Acredito que podemos puxar esta questão, convocando o clube, a empreiteira OAS, Ministério Público. Vamos trazer subsídios e ajudar a prefeitura”, disse Carpes. 

É longo o impasse relacionado ao Olímpico. Ele seria entregue à OAS como parte do negócio da construção da Arena do Grêmio, porém, a empresa descumpriu cláusulas contratuais. Em meio a isto, a companhia, um dos principais alvos da Operação Lava Jato, entrou em recuperação judicial. Em razão disto, o antigo estádio segue pertencendo ao Grêmio, que mantém a posse e a propriedade até resolução do problema. Hoje, segundo a Câmara Municipal, o clube gasta R$ 100 mil por mês com segurança e limpeza da entrada principal, “mas não consegue conter toda movimentação externa”.

De outro lado, a OAS, que fez parte do consórcio da construção da Arena, permanece desde então com seus direitos, mas não executou as obras de intervenção no seu entorno, referente aos bairros Humaitá e Farrapos. Em setembro de 2022, o prefeito Sebastião Melo entregou à Câmara projeto de lei propondo prazo de um ano para aprovação tanto do cronograma de execução das medidas compensatórias envolvendo o novo estádio, quanto a aprovação do parcelamento do solo do Olímpico, passo que precede a demolição do estádio.

Desde janeiro, o assunto está na Comissão de Constituição de Justiça do Legislativo. “Naturalmente, a Câmara tem seu tempo de discussão. O município quer resolver o problema de ociosidade, da má utilização do terreno junto à Azenha. Se, após aprovado, isto não acontecer dentro do prazo de um ano, vamos fazer as revisões no projeto e eventualmente evoluir para uma desapropriação. Não é nosso objetivo, cria uma polêmica enorme, mas queremos que seja dado um uso para resolver o problema da cidade”, afirma o secretário Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm. 

Em abril, Melo esteve em Brasília para tentar agilizar junto à Caixa, uma das financiadoras da construção da Arena, o pagamento das dívidas de R$ 44 milhões pela Arena Porto-Alegrense, criada para administrar o novo estádio, além das construtoras Albizia e Karagounis com a prefeitura em razão das melhorias não executadas. O valor já foi maior, de R$ 193 milhões, mas após recurso no Tribunal de Justiça do RS, o montante foi reduzido. 

Na quinta-feira, a 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre acolheu o pedido da Karagounis e da Albizia e, a partir da decisão da juíza Gabriela Dantas Bobsin, as empresas estão desobrigadas de realizarem as obrigações que constam no termo de compromisso de 2014. Da mesma forma, fica a Arena Porto-Alegrense desobrigada de executar as obras, exceto duas intervenções assumidas em 2021: uma obra de drenagem e a obrigação de manter a estação de tratamento de esgotos que fica localizada na área do estádio. A prefeitura vai buscar reverter a decisão.


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