Pesquisadores reconstituem mapa de Porto Alegre

Pesquisadores reconstituem mapa de Porto Alegre

Trabalho foi realizado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, através do acervo da Justiça Federal, e trata do mais antigo registro cartográfico da cidade, que representa a Porto Alegre nos anos de 1820

Guilherme Sperafico

Versão digital do mapa de Porto Alegre reconstituído pelos pesquisadores do IHGRGS

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Para entender como era Porto Alegre nos anos 1820, pesquisadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS) reconstituíram o mapa da Capital. Isso foi sendo possível graças ao acervo histórico da Justiça Federal do Rio Grande do Sul (JFRS), que passou por uma digitalização de alta qualidade e possibilitou um detalhamento do mapa, que refletiu na qualidade do projeto.

No dia 21 de fevereiro, os pesquisadores visitaram o prédio-sede da instituição para uma reunião com a equipe do Memorial da Justiça Federal. O objetivo foi planejar uma aula aberta, que será ministrada no auditório da JFRS. A equipe pretende disponibilizar o mapa a pesquisadores e fazer com que eles tenham acesso a um documento que reflete, exatamente, a configuração espacial de Porto Alegre no período da independência do país.

Entre os responsáveis pela execução deste projeto, está Ronaldo Marcos Bastos. Ele explicou que tudo teve início no segundo semestre de 2021. Durante um processo por demandas de terras, a Divisão de Documentação e Memória da JFRS localizou um documento datado em 1884.

Tratava-se de uma cópia do mapa original de Porto Alegre, produzido em 1820 pelo Cel. Joze Pedro Cezar. “O achado reveste-se de singular importância, porque o mapa original está desaparecido e nunca mais foi localizado desde aquela época (1884), e também pelo fato de se tratar do mais antigo registro cartográfico da cidade”, destacou o pesquisador.

Bastos acrescentou que, em relação ao processo, contido em nove volumes, somente sete foram localizados. Entre eles estão os números 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 9. “Felizmente, em um deles estava o mapa”, relatou.

Para recuperar as condições físicas do mapa, os pesquisadores precisaram superar duas principais dificuldades, devido ao tempo de armazenamento do documento. Dobrado em oito partes há mais de um século, ele não tinha condições de ser aberto.

A primeira etapa foi executada pela Justiça Federal, com a recuperação do mapa “feita com muita competência”, como descreveu Bastos. Depois, a segunda etapa consistiu na elaboração de uma cópia digital de mesmo tamanho e proporções, através da parceria com o IHGRGS.

Para a elaboração da cópia digital, os pesquisadores precisaram superar alguns obstáculos. Conforme relato de Ronaldo Marcos Bastos, o mais complexo foi a retração e deformação de algumas partes do original, além de áreas muito danificadas e de difícil visualização. Somente nesta etapa, foram necessários mais de cinco meses para conclusão.

Com o término de todos os processos executados pela JFRS e pelo instituto, um cenário completamente diferente do que é presenciado nos dias atuais foi evidenciado pela conclusão do projeto. O mapa mostra a parte urbana da cidade em 1820. Naquela época, “Porto Alegre basicamente se restringia à área que vai desde a atual ponta do Gasômetro (onde está a antiga Usina), até as ruas Senhor dos Passos, Cel. Genuíno e Santa Casa, além da área onde estava localizado o portão da cidade”, detalhou.

O mapa também mostrou o arruamento municipal ainda em estágio primitivo. Havia ruas em projeto, assim como as vielas, becos, igrejas, praças, largos, cemitério e alguns prédios públicos. Todos estão com as denominações utilizadas na época.

Bastos afirmou que o resultado da conclusão do projeto, com a confecção do documento, deixará um legado. “A análise do mapa, por pesquisadores e historiadores, entre outros, permitirá que se abram várias linhas de pesquisa, principalmente pelas observações e as comparações com outros mapas posteriores que já são conhecidos”, observou.

Um dos temas abordados na recente reunião é a aula aberta que apresentará o projeto. Ela está marcada para o próximo dia 9 de abril, a partir das 17h, no auditório da JFRS, localizado no 9º andar do edifício-sede. A aula será proferida pelo pesquisador Ronaldo Marques Bastos e fará parte das comemorações do aniversário de 253 anos de Porto Alegre. “Será mostrada a recuperação do mapa, aspectos mais antigos da cidade e haverá a entrega de uma cópia digital à direção do Foro do Rio Grande do Sul.”

Depois desta data, o mapa ficará disponível como documento público e de utilização universal por todos os historiadores e pesquisadores, “assim como aqueles que se interessarem de qualquer outra forma pelo documento”, acrescentou o pesquisador.

Instituto Histórico e Geográfico

Responsável pela elaboração do mapa através do documento encontrado no acervo da Justiça Federal, o IHGRGS é uma instituição privada sem fins lucrativos, que possui mais de 100 anos. Foi fundado em 5 de agosto de 1920 por Octavio Augusto de Faria, capitão Manoel Joaquim de Faria Corrêa, tenente Emílio Fernandes de Souza Docca, Afonso Aurélio Porto e o padre João Batista Hafkemeyer, com o desembargador Florêncio de Abreu e apoio do Governador Borges de Medeiros.

O IHGRGS promove estudos e investigações sobre história, geografia, arqueologia, filologia e antropologia, principalmente centrados no Estado. A sede é parte do patrimônio recebido do governo do Estado em 1948 e foi inaugurada em 25 de março de 1972. O edifício conta com três andares: sala de pesquisa e a biblioteca Tomás Carlos Duarte no 1º andar, a sala dos arquivos, a biblioteca geral e a mapoteca no 2º andar e o auditório para 150 pessoas ocupando o 3º. A equipe de pesquisadores que conduziu o projeto de reconstituição do mapa é composta por Miguel Frederico do Espírito Santo (Presidente do IHGRGS), Luis Felipe Escosteguy, Pedro Paulo Pons, Paulo Estivalet Flores Pinto e Ronaldo Marcos Bastos – a quem coube a elaboração da recuperação digital.


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