Primeiro morador volta à Casa do Estudante

Primeiro morador volta à Casa do Estudante

"O que mais me marcou naquela época era o cheirinho de novo", diz Lírio Schaeffer

Felipe Samuel

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O sonho de ingressar no curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), no início da década de 70, motivou Lírio Schaeffer a superar dificuldades financeiras e buscar alternativas para seguir os estudos. Sem recursos para custear moradia, o jovem estudante recorreu a Eduardo Faraco, à época reitor da universidade, e sugeriu ocupar um dormitório da Casa do Estudante Universitário (CEU), localizada na avenida João Pessoa. Em 1970, a estrutura do prédio já estava pronta, mas ainda não recebia moradores. Após insistir com o reitor e assumir o compromisso de zelar pelo espaço, Schaeffer se tornou o primeiro morador da CEU.

Ao ler a reportagem publicada no Correio do Povo, na edição do dia 7 de maio, sobre a importância da CEU na formação dos alunos de baixa renda, ele decidiu revisitar o passado e voltar ao local 51 anos depois de deixar o dormitório que ocupou no oitavo andar do prédio até 1972. “Era um apartamento de luxo, perfeito, muito bom, novinho em folha”, lembra. Naquele ano, Schaeffer foi o único morador da CEU. Apenas no ano seguinte, o amigo Norberto Correia de Luzerna, também estudante de Engenharia Mecânica, passou a morar no mesmo local.

Oriundo de Piratuba, município do meio oeste de Santa Catarina, Schaeffer chegou a morar um período na casa de parentes em Porto Alegre. “Meus tios não permitiam minha chegada em casa após as 22h. Como eu tinha aulas que terminavam às 22h30, e com o deslocamento de bonde até a Rua Dr. Timóteo, fui obrigado a pedir ajuda à Reitoria da Ufrgs para obter um lugar para morar. Na época, os andares superiores já tinham sido concluídos. Assim, me foi dada a oportunidade de lá ir morar e poder concluir meus estudos”, destaca.

E por conta dessas coincidências da vida, dois anos depois, em 1974, Schaeffer ingressou na Ufrgs como professor, onde permanece até hoje. Atualmente é professor convidado vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica, Minas e Materiais (PPGE3M) do Departamento de Metalurgia. “Considerando meu início como estudante, em 1967, são mais de 56 anos vinculados à Ufrgs”, afirma. Durante o período, Schaeffer concluiu mestrado, sendo o 1º Mestre do PPGE3M em 1976. Em 1982, fez doutorado na Alemanha. Desde então, formou 154 mestres e 53 doutores.

“A entrada nesse prédio salvou a minha vida em Porto Alegre, porque tive no início da faculdade um lugar para morar decente, com facilidades tanto de alimentação quanto de transporte”, recorda. Ao percorrer os corredores do prédio que morou por dois anos, ele lembra que a estrutura do prédio era impecável em 1970. O que mais me marcou naquela época era o cheirinho de novo. “Transitei um pouco por algumas casas de estudantes para olhar como era, mas quando entrei aqui me senti no céu. Foi sensacional, pelo fato de a gente ganhar do governo uma possibilidade de morar em uma coisa nova, feita para os estudantes”, observa.

Segundo Schaeffer, o grande desafio para os estudantes de baixa renda que desejam ingressar na faculdade é justamente superar as dificuldades econômicas para se manter na cidade. “Não tinha problema com comida, com moradia. O grande inimigo dos estudantes que vêm para cá é resolver essas questões. A partir do terceiro ano de Engenharia Mecânica tinha resolvido esse problema”, destaca. Por isso, o local deixou boas lembranças. “Tenho uma recordação muito boa daqui”, completa. O estado de conservação do prédio também chamou atenção.

“Não está esculhambado como achei que ia encontrar. Devia ter vindo antes para ter um pouco dessa vivência que eu tinha do passado, que foi muito boa. Foi sensacional”, afirma. Com mais de 500 artigos técnicos publicados no Brasil e no exterior, Schaeffer é pesquisador 1A do CNPq, maior nível creditado aos pesquisadores brasileiros. “Fico feliz de retornar à CEU. Acho que consegui retribuir em parte tudo que me deram.”


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