Sentimento de insegurança no Triângulo

Sentimento de insegurança no Triângulo

Não podemos ficar parados por muito tempo, se não podemos ser vítimas...

Felipe Falero

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Revitalizado pela prefeitura e entregue à população em dezembro de 2019, o Terminal Triângulo, no bairro Sarandi, zona Norte de Porto Alegre, é um dos principais pontos de circulação de ônibus e pedestres da Capital. Naquele ano, o local, considerado o maior terminal urbano da cidade, recebia 950 coletivos e 45 mil pessoas diariamente. Outras 110 mil circulavam no interior dos veículos, conforme a administração municipal.

O Triângulo, debaixo de sua imponência e destaque na paisagem urbana, esconde vandalismo, sentimento de insegurança e policiamento considerado insuficiente por quem frequenta o espaço. Passar pelos túneis e banheiros causa apreensão, principalmente à noite. Há quem tenha apelidado o local de “Terminal do Medo”. “Nunca fui assaltada, mas ouvi de outras pessoas que isto acontece bastante. Apesar disto, sabemos que estamos inseguros em todos os lugares”, afirma a auxiliar de serviços gerais Jane Rodrigues, moradora do bairro Mário Quintana, que relata circular com frequência pelo espaço.

A diarista Lígia Gonçalves, que vive em Gravataí, frequenta eventualmente o terminal. “Não podemos ficar parados por muito tempo, se não podemos ser vítimas (de assalto)”.

Na opinião dela, seria preciso reforçar o policiamento da Brigada Militar (BM) na área. Na manhã que a reportagem esteve no local, havia dois soldados cobrindo o Triângulo, que está sob responsabilidade do 20º Batalhão de Polícia Militar (20º BPM), além da circulação de funcionários das companhias de transporte.

Nas passagens subterrâneas, mesmo durante o dia, a iluminação funciona relativamente bem, embora algumas lâmpadas pisquem de tempos em tempos. No entanto, poucas pessoas utilizam estas travessias e, quem as acessa, caminha rapidamente. A causa também pode estar relacionada com o cheiro forte de urina no subsolo, que reforça certo caráter de precariedade.

Há também ao menos uma câmera de monitoramento junto ao ponto de atendimento do Tri, que, de acordo com funcionários do serviço que trabalhavam no complexo, está funcionando plenamente e abrange toda a área do Triângulo. Acima do nível do chão, o terminal recebeu há cerca de quatro anos, ainda na gestão do ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior, uma reforma estrutural, que substituiu luminárias do terminal principal e das galerias de acesso. Ainda foram feitas limpeza, recuperação, reforço e pintura das estruturas metálicas. Na época, a conclusão dos trabalhos encerrou um período de cinco anos em que o local ficou sem cobertura devido a um temporal.

Entre os vendedores que trabalham no local, há indignação e preocupação pela falta de resolução dos problemas. Vendedor de lanches há seis anos no Triângulo, Luís Segalla comenta que o horário mais crítico é depois das 21h. “Às vezes inclusive ouvimos gritos ali por baixo”, afirma. A área dos túneis é considerada muito silenciosa pelos moradores próximos e nem sempre é bem-vista por eles, que preferem circular por outros espaços. Os grafites conferem certo colorido ao lugar, mas, em alguns pontos, as pichações substituem os outros desenhos, tapando inclusive as placas de sinalização.

O ambulante Yuri Pires, que comercializa itens para celulares também há seis anos, diz estar no local diariamente e ter visto já de tudo no Triângulo. “Alguns rapazes assaltavam no entorno e corriam para cá, para tentar fugir. Modernizaram o terminal, deixaram bonito, mas ainda têm coisas para fazer.” Os elevadores existentes, conforme os comerciantes, nem sempre funcionam. “As pessoas com deficiência às vezes não recebem ajuda dos agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que acho que deveriam auxiliar a entrar e sair. Neste caso, fomos nós mesmos que tivemos de ajudar”, afirma Yuri.

O terminal do Sarandi tem por volta de 15 mil metros quadrados (m²) de área construída, quatro elevadores e um conjunto de banheiros. Por ele, circulam linhas da Carris, da chamada bacia norte/nordeste de Porto Alegre e linhas metropolitanas.

O Triângulo está incluído no programa Mais Transporte, criado pela gestão do prefeito Sebastião Melo, para o recebimento de melhorias, assim como os terminais Parobé, José Eduardo Utzig, Jayme Caetano Braun, Antônio de Carvalho, Princesa Isabel, Nilo Wulff e Mendes Ribeiro. 

Procurada para comentar os problemas relatados pelos frequentadores, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), responsável pela gestão do terminal, disse que verificaria as informações, mas não retornou até o fechamento da edição. Já o 20º BPM confirmou que mantém, em sistema de rodízio, uma dupla de policiais militares “a fim de coibir e prevenir eventuais ocorrências contra os pedestres que circulam no local”, disse, em nota, o batalhão.

A BM acrescentou ainda que, além do ponto-base, há ainda a presença das viaturas policiais de atendimento ao telefone 190 que patrulham as imediações do terminal, enquanto não estão atendendo outras emergências. Ainda conforme a Brigada Militar, neste mês de julho, foram registrados dois roubos a pedestre no local, sendo um deles no próprio Triângulo e o outro nas proximidades. 

A SMMU informou que a Secretaria Municipal de Segurança (SMSEG) mantém, por meio da Guarda Municipal, uma rotina de patrulhamentos diários no entorno do Terminal Triângulo. Neste ano, a corporação registrou cinco ocorrências no local, relacionadas a averiguações, apoio a outros órgãos, fiscalização e assistência humanitária.

O espaço também é monitorado pelo Centro Integrado de Comando, que, em conjunto com a EPTC, mantém quatro câmeras de monitoramento no terminal. A orientação é que os usuários denunciem movimentações suspeitas às forças de segurança municipais por meio do número 153.


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