Transformando a adversidade em arte

Transformando a adversidade em arte

Elena, 15 anos, confecciona miniaturas de bichos de estimação em biscuit. O trabalho, que surgiu como forma de eternizar sua cachorrinha Fifi, que morreu com 20 anos, converteu-se em fonte de renda e apoio emocional

Paula Maia

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Um apartamento no bairro Passo d’Areia, em Porto Alegre, abriga uma fábrica de sonhos e recordações. É lá onde vive Elena Medina, uma jovem empreendedora, que descobriu sua paixão pelo biscuit com a intenção de representar sua cachorrinha Fifi, que morreu com 20 anos. Através desse trabalho, Elena encontrou uma terapia e uma maneira de transmitir mensagens positivas às pessoas. Com dedicação, ela cria representações realistas de animais de estimação, especialmente os chamados "pets anjos" que homenageiam aqueles que já se foram. Além disso, o biscuit foi uma fonte de superação para as dificuldades enfrentadas na sua infância.

Com 10 anos, Elena fez seu primeiro curso de biscuit e tinha apenas um objetivo em mente: poder representar de forma fiel Fifi. “Foi um impacto muito grande quando ela morreu. Eu queria ter a Fifi por perto de alguma forma”, conta. Hoje, com 15 anos, e outros cursos de aperfeiçoamento, ela afirma que seu trabalho é, além de fonte de renda, uma satisfação. Para fazer a arte, Elena pede uma imagem do animal e sobre ela faz linhas e curvas para poder absorver as características. 

Elena Medina e sua mãe. | Foto Ricardo Giusti

O cuidado com cada detalhe fascina a adolescente, que se sente realizada ao saber que a imagem materializa os bons momentos com os amigos de estimação. Elena é estudante do 1º ano do Ensino Médio e diz que ainda não sabe o que vai fazer quando terminar a escola, mas afirma que o biscuit nunca vai sair de sua vida. “Acho que com o biscuit popularizado, o meu trabalho realista pode chegar a grandes proporções”, afirma. Sobre as curiosidades do trabalho, revela que seu maior desafio foi fazer a representação de um Lulu da Pomerânia e de um Pastor Australiano e que a sua primeira venda foi logo depois do curso. Os clientes eram os professores da escola. “Os colegas vendiam desenhos e eu achei que o meu trabalho poderia ser vendido. Primeiro ofereci para os professores e coordenadores da escola, pois achava que meus colegas não iriam comprar”, lembra. 

Ela vendeu as primeiras peças por R$ 2,00. Hoje, seus produtos, que variam de ímãs de geladeira, enfeites de chimarrão e miniaturas, custam entre R$ 25,00 e R$ 150,00. Os pedidos são feitos sob encomenda pelo perfil do Instagram @pet_biscuit. O trabalho de Elena tem sido bem recebido pelos clientes. Entre os depoimentos de clientes está a declaração de que as miniaturas recebidas promoveram uma viagem no tempo. Além dos depoimentos de reconhecimento, Elena é categórica em afirmar que se sente muito feliz em poder eternizar os animais que fizeram história na vida das pessoas. 

“Não é porque o mundo me deu coisas ruins que eu tenho que devolver isso para o mundo. Tive uma infância muito conturbada. Com o meu trabalho, consigo parar essas coisas ruins que me foram dadas. Eu consigo passar alegria e emoção para as pessoas”, garante. Além do orgulho que sente pelo trabalho da filha, Aniara Medina destaca a transformação significativa que o biscuit trouxe à vida de Elena. Com a infância marcada por sofrimento e violência doméstica, a mãe temia que ela carregasse esse passado de forma negativa, mas hoje ela fica emocionada ao ver sua filha decidida a espalhar mensagens positivas para o mundo através de sua arte. 

Com apoio da mãe e com dedicação, Elena Medina cria representações realistas de animais de estimação | Foto: Ricardo Giusti

“Achei que ela tinha encontrado no biscuit uma forma de conforto, mas é muito mais do que isso. Sinto orgulho principalmente por ela. Todo o amor e afeto que ela tem com os animais são inseridos em cada peça”, garante a mãe. Para Aniara, o biscuit não apenas proporcionou conforto a Elena, mas também se tornou uma forma de expressão e um meio para superar as adversidades. 


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