A construção de sujeitos críticos na literatura infantil

A construção de sujeitos críticos na literatura infantil

Histórias infantis têm se tornado uma possibilidade para o debate de estereótipos da primeira fase da vida

Histórias infantis são importantes na primeira fase da vida

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Com os temas discriminação, gênero, diversidade e infância em alta, cresce a necessidade de trabalhar sobre esses assuntos com crianças desde cedo. Não apenas no ambiente escolar, mas também no ambiente familiar, a literatura infantil tem se tornado uma possibilidade para esse debate, já que pode exercer um papel de auxílio na desconstrução de alguns preconceitos já estabelecidos na infância e na construção de sujeitos menos desiguais no futuro. 

“Quando autores e ilustradores utilizam clichês de gênero na construção de seus personagens, eles estão ensinando às crianças modos de ser menina ou ser menino. E, se eles podem ajudar na percepção destes estereótipos e papéis de gênero, também podem ajudar a desconstruí-los”, afirma Tiago Fioravante, mestrando em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade Feevale, onde pesquisa temas como infância e a sua representação na mídia brasileira.

Falar sobre discriminiação e preconceito já na infância faz com que as crianças tenham, desde a primeira fase da vida, um senso crítico para se posicionar frente às situações adversas. Segundo Fioravante, é importante existir essa discussão no âmbito infantil, para que não sejam reproduzidos estereótipos nocivos sobre gênero que poderão acabar implicando em uma visão reducionista sobre suas identidades. “Como a base da construção do pensamento é a linguagem, a literatura infantil desperta nas crianças a imaginação e a construção de significados, que vão se tornar essenciais para que elas aumentem seu repertório de palavras e que consigam experimentar sensações
 novas, construir novos mundos em seu imaginário e ainda auxilia no aprendizado”, declara o mestrando. 

Como exemplos de narrativas, o livro Meus Dois Pais, de Walcyr Carrasco, conta a história de Naldo que, após a separação dos pais, vai morar com o pai e um amigo dele. Tudo vai muito bem até um dia dizerem para Naldo que o pai era homossexual. O garoto fica desnorteado, mas uma conversa resolve toda a situação: o menino refletiu e entendeu que isso não muda o amor que o pai sente por ele.  Já Shirley Souza, autora do livro Amor Entre Meninas, com leveza e dinamismo, esclarece diversos questionamentos sobre a sexulidade feminina na adolescência e normaliza o fato de que achar uma pessoa do mesmo sexo bonita não significa que você é homossexual, mas, se for, está tudo bem.

Tiago explica que a literatura infantil visualiza essa discussão de gênero, mídia e infância como uma forma de abordar personagens com comportamentos tidos como inadequados quando relacionados às expectativas sociais sobre os “tradicionais” modos de agir e viver na infância. “Autores e ilustradores se empenham para propor uma representatividade positiva destas experiências em histórias voltadas ao público infantil”, finaliza o pesquisador. 


Dicas de livros que desconstroem estereótipos da infância 


Flicts (Ziraldo)

Julian is a Mermaid (Jessica Love)

Tudo bem ser diferente (Todd Parr)

Monstro Rosa (Olga de Dios)

Todos Zoam Todos (Dipacho)

Uma História Apaixonada (Léia Cassol)

Meu Amigo Jim (Kitty Crowther)

Joana princesa (Janaina Leslão)

Fausto: O Dragão Que Queria Ser Dragão (Andre Romano)

Cachinhos de Urso (Stéphane Servant)

Na Minha Escola Todo Mundo é Igual (Priscila Sanson)

Fernanda Carvalho / Universidade Feevale

 


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