A segunda vez é sempre melhor

A segunda vez é sempre melhor

A atriz, produtora e escritora Clara Corleone lançou o seu segundo livro na 67ª Feira do Livro de Porto Alegre

Weslei Fillmann / Feevale

Clara Corleone participa de entrevista virtual

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“Porque era ela, porque era eu” é o primeiro romance de Clara Corleone e o título é uma homenagem à música homônima de Chico Buarque. Em 2019, foi lançado o livro “O Homem Infelizmente Tem que Acabar – crônicas, deboches e poéticas”. No ano passado, Clara não participou da Feira, mas falou sobre algumas diferenças com relação a 2019 e 2021.

Como surgiu a ideia de unir em um só projeto “O Homem Infelizmente Tem que Acabar” às publicações nas suas redes sociais?
Eu escrevia bastante no Facebook e eu tenho um sarau literário desde 2017. E em uma das edições do sarau literário, convidei a Joanna Burigo e Fernanda Melchionna, nossa garota em Brasília, para conversar. A editora da Zouk que trabalha com a Joanna, Karina Xavier, ela gostou de mim, me lia no Facebook e fez esse convite pra gente publicar o livro. Ela (Karina) falou “eu edito” e (Joanna) disse “vai com o meu selo” (Casa da mãe Joanna). Aí eu juntei crônicas escritas de 2014 a 2019. A Jô deu uma olhada e uma organizada em capítulos e em setembro já estava na rua. Foi muito rápido. Ele foi lançado em outubro, mas já estava pronto em setembro. O livro fala sobre relacionamentos, machismo e feminismo. Ele é um livro leve, mas tem assuntos sérios e as pessoas costumam ler ele bem rápido.

Com relação ao título “O Homem Infelizmente Tem que Acabar”, mais especificamente para aqueles que costumam “julgar o livro pela capa”, o que eles vão encontrar nesse livro?
Eu acho que o principal mérito do livro é que, além do título provocativo, ele fala de um jeito muito tranquilo e quase didático sobre o machismo e micromachismos. Ele vai falar sobre situações muito pesadas também, como casos de feminicídios e abuso sexual, mas principalmente sobre o assédio, não deixar as mulheres da família falar no almoço de domingo e as pessoas não prestarem atenção em mulheres. O retorno que tenho dos leitores homens é sempre agradecendo, pois falam “entendi”. Eles também falam que entenderam que o movimento feminista não é só um “mimimi”. Nós estamos com uma pauta que mostra que o machismo não é tudo, o machismo está em tudo. O homem vai ler o livro, querendo me odiar e é isso que acontece (eles refletem sobre as situações descritas no livro).

Essas situações não são percebidas pelos homens?
É isso. Os homens nem sabem que essas situações acontecem. Alguns amigos não entendiam o que é esse assédio que sofremos nas ruas. Acharam que era um galanteio, uma paquera. Mas assédio é uma coisa e paquera é outra. A ideia do livro é dar uma clareada, colocar uma lupa para os homens enxergarem com os meus olhos esse tipo de situação.

No lançamento do livro “O Homem Infelizmente Tem Que Acabar”, em 2019 na 65ª Feira do Livro de Porto Alegre, como foi encontrar pessoas que te conheciam através da sua obra e ter esse primeiro contato com os leitores?
Foi muito bacana. Fizemos uma noite de autógrafos em um bar, que acabou fechando, e duas semanas depois fiz o lançamento na Feira. Chovia e foi uma galera. Fiquei muito tempo autografando e as pessoas de guarda-chuva. Na Feira do Livro, a coisa foi tão louca que o meu livro esgotou no meio da feira. Foi muito vendido. A extremamente generosa Martha Medeiros, que eu chamo de minha madrinha, falou muito do meu livro nas colunas e redes sociais dela. E foi um estrondo, uma coisa totalmente inesperada. É sensacional tu encontrar essas pessoas. Eu já escrevia a bastante tempo no Facebook, tinha 18 mil seguidores, um certo público. É muito gostoso encontrar e ver as carinhas das pessoas que tu normalmente conversas por direct (mensagem), nos comentários. É uma sensação muito única.

Como foi a recepção do prêmio Minuano de Literatura, pela obra “O Homem Infelizmente Tem Que Acabar”?
Foi emocionante e inacreditável. Eu digo muito que nós, mulheres, temos a “síndrome da impostora”, pois os elogios vêm de pessoas próximas e penso “ah, capaz, não é pra tanto”. O prêmio é muito respeitado. Quem ganhou no ano anterior (2019) foi o Vitor Necchi, escritor fantástico. Inclusive, na mesma categoria que eu. Foi uma sensação indescritível, principalmente porque teve uma onda de mulheres compartilhando isso. Eu tenho dito muito essa frase que a Manu (Manuela D'Ávila) me ensinou, “as mulheres são como água, elas crescem quando se encontram, quando se juntam”. Foi lindo. Só que estamos no meio de uma pandemia. Normalmente eu sairia para comemorar com meus pais, para brindar. Dessa vez foi diferente. Tomara que tenham outros prêmios para que tenha essa oportunidade. Mas foi muito bonito, foi muito único.

Em comparação a 2019, você sentiu essa falta das pessoas?
Muito. Eu sou muito ligada a minha família. Sou uma pessoa muito afetuosa, muito carinhosa. Minha melhor amiga me mandou uma garrafa de champanhe, por telentrega. Foi engraçado. Meus pais mandaram vídeo comemorando. Mas é “brabo” ficar longe das pessoas que a gente ama.

Na semana passada (sábado, 6 de novembro de 2021), você fez o lançamento do livro “Porque era ela, porque era eu”, a sua primeira aventura nos romances. Como foi esse novo contato com os seus leitores e fãs, que leram a sua obra de 2019 e querem conhecer a de 2021?
Foi lindo, foi incrível. É o meu primeiro romance. Veio novamente a “síndrome da impostora”, comigo pensando que as pessoas imaginariam que não consigo segurar uma narrativa longa, não vai ninguém, a gente ainda está começando a sair de casa, a pandemia não acabou. Eu lembro que eu estava tomando banho e pensei que iriam umas 20 pessoas. Fiquei uma hora e meia autografando sem parar. Uma fila gigantesca, algo completamente absurdo, “ridículo”. Pensei “gente, é sábado, o que vocês estão fazendo aqui?”. Foi muito legal e especial. A louca né? Eu abraçava as pessoas. Os protocolos foram completamente jogados no lixo (risos). Todo mundo de máscara. Havia os leitores do primeiro livro, que eu autografei também. Foi muito especial esse encontro.

Você teve contato com a Feira do Livro de 2020, que foi totalmente on-line?
Não. Eu tenho uma relação tão deliciosa com a Feira do Livro, vou desde menina. Sempre compro horrores de livros e depois vou na Andrada tomar uma cerveja, “pego” um cinema na Casa de Cultura. Pra mim era algo difícil (a feira online), parecia um amigo hospitalizado. Eu tenho esse negócio das telas também, teve uma hora que deu um cansaço das lives, Eu não aguentava mais nem quando me convidavam, quem dirá eu assistir. Foi complicado. Que coisa bonita ver a feira (2021), ela tá linda. Eu vi que ela vendeu mais do que antes da pandemia e ela está na metade. Eu participei, à convite da Lu (Lu Thomé), e autografei e entrevistei.

O contato das pessoas com os autores e outras que também gostam das mesmas leituras é importante para a manutenção da Feira do Livro de Porto Alegre e seu constante crescimento?
Eu acho que sim. Pois a Feira tem esse lance de ser um local de encontro. Você encontra seus amigos lá “por acaso”. As pessoas ficam ali juntinhas. Eu nunca fui para a feira pensando “vou comprar tal livro”. Esse ano eu queria comprar alguns livros de amigos que estavam lançando, mas normalmente nunca fui. Comprei em um saldo 6 livros por R$ 25,00, algo absurdo, uma delícia. Mesmo ela estando menorzinha, não tem como ser diferente pra mim. É como ir em uma festa online. Festa é com gente. A Feira do Livro, pra mim, também é com gente. Pessoas na rua, na praça.

Houve diferença entre a sua primeira aparição na feira em 2019 com a de 2021?
Muito maior (2021). Estou em uma outra editora, já lancei um livro, então algumas pessoas já vão te conhecendo. Tomara que continue assim.

Comparando a relação dos leitores e autores entre as edições de 2019 e 2021. Você acha que tem algo que pode ser levado para os próximos anos?
Eu acho que é mais uma alegria de estar se vendo de novo. Os meus amigos que autografaram também falaram isso. É emocionante você estar vendo de novo os seus leitores, tu ter essa troca. Eu sou uma pessoa privilegiada né? Eu recebo carinho todos os dias aqui no direct, no celular. Mas não tem comparação. As pessoas te olharem, pedirem foto, falarem que leram o livro em um dia, que não conseguia parar de ler. O que ficou pra gente que escreve é que nada substitui esse encontro de olhar. Então, vamos valorizar muito isso, toda vez que termos a oportunidade.

O que você planeja trazer para os seus leitores nos próximos anos?
Eu tenho, atualmente, três projetos em andamento. Tenho um mais encaminhado que é a história de uma garota que vai parar em uma cidade onde os homens agem como mulheres e as mulheres agem como homens. É uma comédia. Se chama, provisoriamente, “A Cidade das Mulheres”. Tem um clima mais leve, mais divertido e crítico. De novo, essa temática feminista, de relacionamento amoroso, que é um lance que eu curto. Mas é uma pegada mais leve, para as pessoas se divertirem. É, ao menos, o que eu espero. Mas está bem no comecinho, vai demorar ainda para ficar pronto. Os outros dois são um romance policial, chamado “Rosa e Violeta”, sobre uma garota que foi parar em uma delegacia. E o outro é “Um Conto de Carnaval”, que é uma adaptação do Dickens (Charles), que tem o famosíssimo “Conto de Natal”, onde o cara recebe a visita de três espíritos, do passado, presente e futuro. Nesse conto (Conto de Carnaval), é uma menina muito festeira que se machuca e não vai poder “brincar Carnaval”. Aí ela recebe a visita dos espíritos dos carnavais, com o “malandro carioca”, o “boêmio” e o “intelectual de esquerda”. Talvez não seja um livro, mas um roteiro que estou desenvolvendo com a minha amiga Lena Maciel, que é roteirista. Mas é tudo muito pequeninho, muito embrionário.

 


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