Representantes indígenas se destacam entre escritores convidados da Feira do Livro

Representantes indígenas se destacam entre escritores convidados da Feira do Livro

Yaguarê Yamã e Daniel Munduruku participaram de discussões sobre educação e literatura

Correio do Povo

Escritores autografaram obras durante as atividades

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* Daiana Dal Ros (8º semestre Unijuí) e Laura Pontin (4º semestre Unifin)

A representatividade indígena marcou presença nas atividades da 65ª Feira do Livro de Porto Alegre. Durante a programação, estudantes e profissionais de diversas instituições da região tiveram a oportunidade de ouvir e conhecer dois dos maiores escritores da área, Yaguarê Yamã e Daniel Munduruku, vindos dos estados de Amazonas e Pará.

À tarde, o Teatro Carlos Urbim foi cenário para a interação com os jovens, atração do ciclo “O autor no palco”. Já na parte da noite, os escritores participaram do ciclo “A hora do educador – A literatura dos povos indígenas”, que contou com discussão mediada pelo representante da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Rodrigo Venzon.

O escritor e artista plástico Yaguarê Yamã, nascido na aldeia maraguá Yãbetue'y, município de Nova Olinda do Norte, foi para a cidade grande em busca de aprimoramento acadêmico. “Tive a oportunidade de ir estudar em São Paulo. Meu pai queria que eu me formasse pra poder retornar e ajudar o meu povo. E eu sinto orgulho de não trair a confiança dele”, relatou.

Ao concluir a graduação em Geografia na Universidade de Santo Amaro (Unisa), Yamã voltou ao Amazonas, passando a lutar pela reorganização e pela demarcação das terras da comunidade Maraguá, além de defender a preservação dos hábitos e da língua tradicionais. “A terra indígena é uma pátria. Um povo sem a sua pátria não é nada. Então, é necessário ter esse território, para viver e passar de pai para filho toda essa cultura”. Como ativista, idealizou a Associação do Povo Indígena Maraguá (Aspim) e foi coordenador de cultura da Fundação Estadual do Índio (FEI) do Amazonas, entre outras realizações.

A literatura e a arte foram e são ferramentas imprescindíveis para a militância de Yamã. Ele é autor de 27 livros, contemplados com o reconhecimento nacional e de países como Alemanha e Itália, além de ter participação na obra “Etnias do sempre Brasil”, da escultora Maria Bonomi. “Vim do Amazonas com o objetivo de mostrar um pouco mais sobre a literatura indígena, que visa principalmente tirar estereótipos e preconceitos”, declarou.

Yamã, que esteve pela primeira vez no Sul, sentiu-se acolhido em Porto Alegre. “Estou muito feliz de estar aqui, e estou encantado com essa cidade. Eu não esperava ser tão bem recebido”. Durante a passagem pela Capital, o autor recebeu, das mãos de um estudante indígena, o chimarrão, símbolo da hospitalidade rio-grandense - não por acaso, um costume herdado dos primeiros habitantes do território.

Em suas incursões por eventos literários de todo o Brasil, tanto Yaguarê Yamã quanto Daniel Munduruku são recepcionados por aqueles a quem buscam dar voz. Por aqui, não seria diferente: povos indígenas de toda a região prestigiaram as explanações. Um familiar de Munduruku, Sid Jekupe, disse, em sua timidez: “Estou sem palavras, porque é a primeira vez que estou vindo aqui. A gente também veio olhar o nosso parente, o Daniel. Ele é como o nosso cacique, pessoa mais velha e experiente”, revelou o jovem, resumindo a percepção de sua comunidade.

 


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