Um paralelo entre o mundo real e a ficção

Um paralelo entre o mundo real e a ficção

Em ano histórico, a leitura de distopia serve como alerta

Produtividade não foi a mesma para todos os escritores

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Para considerar 2020 um ano histórico e atípico, bastava uma pandemia que exige
isolamento social e que ocasione mais de um milhão de mortes em todo mundo. Mas 2020
foi além: houve também nuvens de gafanhotos destruindo lavouras e um incêndio florestal
na Austrália de proporção tamanha que a fumaça chegou ao Brasil. Sem contar toda tensão
no cenário social e político mundial, ascensão de movimentos sociais como Black Lives
Matter e a consequente queda de estátuas. Uma breve retrospectiva desse ano pode
parecer o roteiro de uma obra ficcional.

Conforme Roberto Prym, sócio da editora Bestiário, ainda é cedo para prever se haverá
aumento de obras distópicas. A produtividade não foi a mesma para todos os escritores.
Entretanto, um tipo de produção literária que já ganhou notoriedade foram os diários de
confinamento, muitas vezes distribuídos virtualmente. “Tivemos também algumas antologias
sobre esse período, mas provocadas pelos editores”, comenta.

Por que ler distopias?

Denise Bisolo Scheibe é bolsista de iniciação científica na Univates e neste ano leu duas
distopias, o Livros dos Testamentos, de Margaret Atwood, e A Cantiga dos Pássaros e das
Serpentes, de Suzanne Collins. Para ela, consumir esse tipo de obra causa sempre um
estranhamento, mas é necessário para estar sempre alerta já que o leitor passa a
questionar o modo como a sociedade é conduzida. “Eu penso que quando estamos em um
realidade de crise climática e ambiental, pensar que a gente destruir tudo ao ponto de não
conseguir mais viver como agente vive, é bastante assustador”, comenta.

O contexto do isolamento social acabou tornando essas leituras ainda mais intensas. “Ainda assim eu
acho uma boa leitura, especialmente para não esquecer daquilo que a gente não quer e
também para mostrar aquilo que a gente pode fazer”, finaliza. É justamente sobre esse alerta que a arte provoca que Fernanda Mellvee, escritora e mestra em literatura comparada.

“Este ano, tivemos a oportunidade de vivenciar algo que já foi muito explorado em livros e filmes, mas que era praticamente impossível de imaginar como algo factível”, lembra. Para ela, a distopia tem um papel não só de nos tornar as pessoas mais críticas em relação ao contexto no qual estão inseridas, mas, também, de proporcionar o prazer de entrar em contato com outros mundos, com outras realidades, propiciando assim uma experiência bastante enriquecedora de fruição literária.

Júlia Amaral / Univates

 


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