Uma feira de livros e musicalidade

Uma feira de livros e musicalidade

Feira do Livro de Porto Alegre se apresenta como um espaço de diálogo entre a literatura e a música

Carolina Dill *

Frank Jorge intercala músicas e poesias em sua apresentação na 68ª Feira do Livro de Porto Alegre

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Durante sua apresentação no Teatro Carlos Urbim, na 68ª Feira do Livro de Porto Alegre, o músico Frank Jorge trazia, além da guitarra e do microfone, outro item condutor de sua trajetória: os livros. Sua performance no palco passava por repertórios musicais com pausas para a entrada da leitura de poesias de autores diversos, formando uma mescla entre as linguagens. 

Além de músico, Frank é escritor. Para ele, o cotidiano e a força da literatura são grandes inspirações para criar suas composições, seja do ponto de vista musical ou do ponto de vista da letra. “Há uma correlação entre tudo que tu faz e de que maneira tu irá transformar isso em um produto artístico”, propõe o artista, trazendo a ideia de ampliação do próprio conhecimento e do fazer cultural. 

Assim como a apresentação de Frank, a Feira do Livro se mostra como um espaço onde as diferentes artes encontram meios de convergir e interagir. Apesar do foco nos livros, a programação oportuniza o diálogo entre os campos a partir dos bate-papos, shows, saraus e simpósios. “Isso é muito legal, abre a cabeça das pessoas. Através da música, o público pode ter curiosidade sobre autores da área da literatura. Uma linguagem artística incentiva a outra”, afirma.

O professor de Língua Portuguesa e Literatura, Leandro Santos, trouxe seus alunos da Escola Técnica de Agricultura de Viamão para acompanhar o evento. Propositalmente, a visita foi feita no dia em que uma das atividades incluía o bate-papo “poesia e heavy metal”, conduzido pelo músico e escritor gaúcho Ricardo Silvestrin. “A música e a poesia são irmãs. A partir da minha experiência em sala de aula, há mais de 12 anos, eu pude perceber que de fato com a poesia musicalizada os alunos têm uma maior afinidade com a literatura”, aponta o educador. 

No ponto de vista do artista gaúcho, a Feira do Livro tem esse espaço para propor diferentes manifestações. Na história de Silvestrin, em determinado momento a música e a literatura se conectaram. Quando jovem, queria integrar bandas e compôr canções. Para ampliar seu repertório relacionado à construção de versos, buscou e encontrou nas poesias uma fonte de inspiração e uma outra possibilidade de caminho artístico para trilhar. “Se me perguntar ‘O que te levou para a poesia?’ Foi a banda Deep Purple”, comenta. Dessa forma, o jovem com referências do metal, encontrou no poeta Manuel Bandeira uma forma de desestruturação e liberdade. 

Quando questionado sobre a presença da música na poesia e da poesia na música, Silvestrin cita o cantor e compositor Bob Dylan, famoso pela criação de expressões poéticas dentro de suas canções. “Bob Dylan ganhou o Nobel de Literatura prestando atenção na palavra, mas preste atenção nas suas melodias. A melodia dele voa. Tem várias construções nas várias artes”. Ele defende que criar é fazer o estranho, o que não existia antes, aquilo que é visto pela primeira vez. Além disso, propõe que cada arte vai fazer o estranhamento com os elementos da sua própria linguagem. “A gente sempre quer achar o que une. O que une é o estranhamento do significado, une saber lidar com as palavras, enxergar a palavra como som. E tem o que separa, que é o aprendizado de cada arte. Eu estou a vida inteira aprendendo com as duas”, relata, procurando também valorizar as individualidades de cada produto artístico.


* Estudante da Ufrgs


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