A chacina dos médicos no Rio e o papelão brasileiro

A chacina dos médicos no Rio e o papelão brasileiro

Poderes públicos só assistem à guerra entre traficantes e milicianos no Rio de Janeiro, autorizando mortes diárias com a sua omissão e suas decisões desconectadas da realidade. Este país já teve tempo suficiente para pelo menos minimizar seus problemas. Mas, enquanto perde tempo com decisões lerdas, pautadas mais pela politicagem que só usa o povo como marionete, males como omissão, corrupção e incompetência condenam a cidadania.

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Três médicos brutalmente executados a tiros, no Rio de Janeiro. Três personalidades da ciência brasileira. Três exemplos de cidadãos. Três pais de família e homens dedicados a cuidar do ser humano, independente de quem fosse. Três sujeitos felizes por participarem de mais uma construção de conhecimento em suas trajetórias brilhantes. Três amigos querendo apenas um instante merecido de descontração. E essas vidas foram ceifadas por bandidos estúpidos - ao que tudo indica, por engano.

Dois morreram na hora. Um, no hospital. O quarto médico baleado, felizmente, sobreviveu.

Qual a probabilidade desse tipo de engano, cometido por criminosos mentecaptos, tão cruéis quando imbecis, ocorrer no Rio de Janeiro? No Brasil? Você acha que é pouca?

Aqui, se liberta da cadeia um assassino miliciano, que provoca tudo isso. Por quê? Perdão rápido para quem ceifa tantas vidas. Para quem faz do mal seu cotidiano. Mas é assim. Poderes públicos assistem como palermas à guerra entre traficantes e milicianos, autorizando mortes diárias com a sua omissão e suas decisões desconectadas da realidade.

Este país já teve tempo suficiente para resolver seus problemas. Ou pelo menos minimizar. Mas enquanto perde tempo com decisões lerdas, pautadas mais pela politicagem que só usa o povo como marionete, a corrupção e a falta de competência condenam a cidadania.

Os assassinos, ao que parece, já pagaram pelo erro. Corpos dos supostos executores foram encontrados em dois carros. Eles teriam sido assassinados pelos próprios mandatários das execuções, como punição pelo erro. É. Pasmem. O mesmo crime que cresce na impunidade oficial, pune com rigor os seus integrantes, quando eles pisam na bola.

Caso se confirme que essas mortes foram mesmo o resultado de um engano desses bandidos, culpa do olhar equivocado de um informante estúpido e da infeliz semelhança física de um dos médicos com o tal miliciano que queriam morto, vai ficar mais feio ainda par o Rio de Janeiro. Para o Brasil. Prova que aqui não é seguro para ninguém.

Mas as vítimas são só cidadãos brasileiros. E os brasileiros morrem todos os dias nessa guerra insana que a inércia do estado assiste e permite. Nada muda quando matam brasileiros, está aí o tempo e a realidade para comprovar. Fossem médicos estrangeiros, dentre os tantos que estão no congresso que as vítimas participariam, ah, aí a atitude dos nobres políticos brasileiros seria outra, talvez além dos discursos tão inflados quanto vazios de sempre.  

 

 

 

 


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