A dupla sertaneja, o álcool ao adolescente e irresponsabilidade desenfreada

A dupla sertaneja, o álcool ao adolescente e irresponsabilidade desenfreada

Dupla sertaneja famosa é processada pelos pais de um menino de 15 anos por dar bebida alcóolica ao garoto, no palco, como prêmio por competição de dança. Mais um exemplo do quanto o descontrole não conhece mais limites quando travestido de diversão.

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Eu acompanhava o noticiário da TV Record, como de praxe, e o caso ocorrido em junho, num show da dupla sertaneja Munhoz e Mariano, foi pauta no noticiário. Tentei entender os argumentos da defesa dos cantores. Alegam, e não me supreende se for verdade, que houve conivência do pai, que acompanhava o menino no evento. E que o garoto teria em suas redes sociais diversos vídeos e fotos bebendo e fumando em festas. Difícil de acreditar? Não. É o que mais vemos por aí. Nas ruas, nos postinhos, nos bares, bailes funks, bailes de salão, festas de todo o tipo. Descontrole total. Irresponsabilidade geral. Menores de idade bebendo até cair e com não apenas a aceitação, mas a participação ativa e até o incentivo de adultos. Muitos deles, justo os que teriam o dever de impedir que isto acontecesse.

Mas a cultura geral de ausência de limites que vivemos não tira em nada a responsabilidade da dupla sertaneja. Ok, interagir com o público e chamar jovens para uma competição de dança no palco. Mas dar bebida de alto teor alcóolico como prêmio? Ainda desepejando diretamente na garganta do vencedor para exposição pública e delírio geral? Isto não é uma forma de violência contra a integridade física de um ser humano? Ainda mais um adolescente? Ah, sim, é cada vez mais comum esse tipo de coisa. Inclusive fazer isto com jovens mulheres, deixando-as embriagadas a ponto de nem ter consciência de todo tipo de violação física que sofremos. Mas quantas almas perdemos nisso?

É o que repito sempre aqui no blog, desde a tragédia da Kiss, com todas as ressalvas e diferenças de cada evento, claro. Mas não aprendemos nada sobre o jeito de divertir nossos jovens. Os caras por aí seguem lucrando horrores com o absurdo e extrapolando limites, nem aí para as vidas. O menino bebeu e parou mal no hospital. Se foi ou não consequência direta do que aconteceu no palco, promovido por caras que são referência de milhares pela sua fama, isto pouco importa. O que importa mesmo é o exemplo de desrespeito, irresponsabilidade e descaso protagonizado e incentivado por quem poderia, até deveria, usar sua projeção para estimular algo positivo entre nossa conturbada juventude. Mas não. Acaba incentivando exatamente a autodestruição como prazer. Como aquele tal MC Pipoquinha e seu ataque desrespeitoso a professores, seus incentivos ao sexo irrsponsável e por aí vai. Não é ser careta estar contra essas coisas. É apenas pedir um pouco mais de respeito aos nossos jovens.

Isto precisa ser repensado urgentemente em forma, inclusive, de legislação punitiva. Porque, ou viramos a chave dessa cultura absurda, ou lamentamos gerações perdidas e um cotidiano caótico.


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