A emocionante história de Kemily, Murilo e Gean

A emocionante história de Kemily, Murilo e Gean

Oscar Bessi

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Há uniões promovidas pelo acaso que acontecem porque precisam acontecer, nesses belos mistérios da vida. Kemily é uma menina sorridente de apenas 5 anos. Ela sorri, mas a vida não é nada fácil para a sua família. Moram numa área de extrema vulnerabilidade social e conflagrada pelas ações do tráfico de drogas e pelos abandonos históricos. Sua mãe vive da reciclagem. Mas Kemily é uma criança que adora abanar para a viatura da Brigada Militar quando esta passa. Dias atrás, ela estava triste: sua mãe, para poder comprar um botijão de gás e assim conseguir dar o que comer aos seus, teve que vender a única bicicletinha que a criança tinha para brincar. Então, num dia como outro qualquer, uma dupla de policiais militares do 15º BPM, em Canoas, não se contentou apenas em abanar para a menina ao passar pela sua casa. Resolveu parar e conversar com ela. E então ela, eufórica pela atenção que ganhava, contou o ocorrido e revelou que sonhava todos os dias em ter sua bicicletinha de volta para poder brincar. Só que a mãe não tinha condições. Aquilo tocou fundo no coração dos PMs.

Eles eram os soldados Murilo e Gean. Dois rapazes apaixonados pelo seu ofício que, em todos os dias que estão de serviço nas ruas, em sua viatura, fazem mais do que apenas patrulhar ou enfrentar o crime. Eles observam. Eles se importam. Eles interagem com as pessoas ao seu redor. Principalmente com as crianças dos bairros de maior vulnerabilidade social, onde a esperança trava uma luta desigual contra a força da tristeza e da brutalidade que asfixiam o cotidiano. Crianças de vida difícil que encontram conforto e amparo nesses gestos simples de afeto e proximidade, como a mera atenção dos PMs que passam por ali. Murilo e Gean, com recursos do próprio bolso, saíram dali naquele dia com um propósito: dariam uma bicicletinha nova para Kemily. E foi o que aconteceu. O vídeo viralizou nas redes sociais. O abraço da criança nos policiais militares, com os olhos cheio de lágrimas de emoção pela surpresa, é de fazer chorar. “Foi o abraço mais sincero que recebi”, me contou  Murilo, esta semana. “O sentimento que ficou pra mim é que podemos fazer muito mais pelas pessoas, basta um pouco mais de proatividade, é um vício bom fazer o bem às pessoas, a caridade traz um sentimento de que, quanto mais fazemos por quem precisa, mais nos sentimos bem”, completa o integrante da Brigada Militar, entusiasmado e comovido.

Pois a ação dos soldados Murilo e Gean gerou muito mais frutos. Com a repercussão nas redes sociais, apareceu mais gente disposta a ajudar a família. Um amigo dos PMs, gerente em uma rede de supermercados, organizou uma campanha de doação de alimentos e, nos dias ruins de chuvas e ciclone no Estado, os policiais militares e o grupo de colaboradores, numa rede solidária, deu todo apoio com doação de alimentos, mantimentos e mais alguns brinquedos para as crianças. Murilo está certo. Fazer o bem vicia. Contagia. Mais do que isso, é o a energia boa da paz que toma conta de lugares onde a violência tenta falar mais alto. Mas só tenta. Enquanto houver corações como os de Murilo, Gean e Kemily, a esperança será sempre um sonho muito concreto e possível de vingar.


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