A heroína de Chapecó

A heroína de Chapecó

publicidade

?
Se alguém contar que ladrões covardes assaltaram uma senhora e sua neta na rua, roubando tudo o que tinham, eu contarei que uma mulher apareceu e capturou esses bandidos. E se contarem que delinquentes arrombaram um escritório, invadiram uma residência e quebraram o dente da moradora para que ela não pedisse socorro, eu diria que a mesma mulher, outra vez, prendeu os caras e libertou a vítima. E que esta mulher encarou tiroteios, traficantes, assaltantes e muito mais, pois era o seu cotidiano. Então alguém talvez pergunte se ela é a Mulher Maravilha. Infelizmente não, pois num filme a gente escreve o final que quiser e o bem pode vencer. Mas é vida real. E eu falo de Caroline Pletsch, soldado do 2º Batalhão da Polícia Militar de Santa Catarina, heroína de carne e osso. Eu falo de uma jovem, linda e humilde, de uma mulher brasileira que escolheu ser policial e, por esta escolha, foi brutalmente executada num assalto em Natal, capital do Rio Grande do Norte.
Conversei com a Tenente Débora, que servia com Carol. É palpável a comoção que tomou conta de todos por lá. Orgulhosa e emocionada, a oficial me contou as diversas ocorrências, mostrou fotos da soldado em ações sociais, com crianças, com colegas de farda, em treinamentos e no seu grupo de defesa pessoal. Em operações. Com o marido. É sempre um sorriso pleno, verdadeiro, transparente. De quem ama o que faz. De quem ama ajudar o próximo. Tenho o privilégio de conhecer a sua vida profissional, os vários elogios do comando por tantas ações de coragem e êxito nos resultados. Débora me mostra os ensaios para a guarda de honra do funeral, composta exclusivamente por policiais militares femininas. É tangível a tristeza. Caroline era querida por todos, um ser humano generoso e exemplar, alegre e sonhadora. A única PM Fem no quadro de destaques operacionais do 2º BPM.
Eu prometo à colega de farda que darei meu máximo para que esta coluna faça jus à história de Caroline. Mas me emociono demais, então preciso fazer pausas, pois nenhuma palavra me parece digna de Caroline. E lembro Carina, com quem trabalhei no 11º BPM e também foi executada, dentro de um ônibus em Porto Alegre quando o assaltante percebeu que ela era policial. Mandar um ser humano se ajoelhar para matá-lo iguala esses criminosos aos piores terroristas que tanto condenamos. Mostra o país doente que somos. E me dói saber que não veremos passeata, série especial, aglomerações cobrando o delegado do caso, muito menos a ONU exigindo respostas. Os cartazes não se espalharão pelos quatro cantos do país onde todos, quando temem por si, correm ao 190 para que Carolines corajosas venham salvá-los. É. Caroline, como todos os policiais do país, avisou que daria sua própria vida em defesa da sociedade. Mas nossa sociedade ainda não entendeu o valor dessas vidas.

(Coluna de Oscar Bessi, Correio do Povo, edição impressa - Porto Alegre, RS, 31 de março de 2018)

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895