A imprevisibilidade da loucura

A imprevisibilidade da loucura

Oscar Bessi

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Lewiston fica no estado de Mane, nos EUA, e é uma cidade cuja população é menos da metade da cidade onde eu moro. Ou seja, tem pouco mais de 30 mil habitantes. Um desses lugares onde quase todos se conhecem. Onde eu moro (quase 70 mil almas), ainda respiramos a possibilidade de nem todas as casas terem grades por todas as portas e janelas. Esquecemos um portão aberto sem maiores traumas. Algo inadmissível em Porto Alegre, por exemplo. Onde nem só a presença maciça de grades e cacos de vidro sobre muros ou fios elétricos garantem alguma segurança. Mas foi em Lewiston que um atirador provocou um massacre histórico, matando vários inocentes e ferindo outras dezenas de pessoas. Uma cidade pequena. Por que faço a comparação? Para dizer a vocês que a loucura humana pode estar presente em qualquer lugar. E não há argumento do tipo “aqui não acontece esse tipo de coisa” que justifique a falta de cuidado, segurança e comportamento preventivo. Tudo pode acontecer em qualquer lugar.

Nenhum raciocínio lógico, religioso, político, partidário ou econômico (fator que frequentemente manda nos demais) apontava para um ataque do Hamas aos moldes do que aconteceu naquele fatídico sábado, 07 de outubro. Quase três centenas de jovens foram brutalmente assassinados no momento em que apenas dançavam e celebravam a vida, iniciando mais uma horrível guerra fratricida. E as barbáries cometidas numa guerra, preferimos nem narrar. Nem vamos relembrar os tantos casos de escolas como a tragédia de Santa Catarina e outras, que ainda repercutem em nossos corações e, principalmente, entre as famílias que precisam lidar diariamente com a dor de perder seus pequenos anjos, assassinados por um louco. Dia desses, vi na TV Record as gravações das cenas impressionantes onde um cidadão comum, sem qualquer envolvimento na vida com coisa violentas, caminhava na noite paulistana quando foi seguido e esfaqueado até a morte por um jovem. Que também não tinha qualquer antecedente e apenas disse nem saber o porquê matou o outro. Apenas teve uma inexplicável vontade de matar. E matou.

Somos humanos. E maravilhosos, ou macabros, conforme nossa formação educacional ou nossa genética, ou nossa história e nossos traumas e estímulos. A bondade e a solidariedade podem surgir impressionantes – e até emocionantes - a cada necessidade surgida, como nas cheias que assolaram o nosso estado. Mas nossa crueldade parece sempre prestes a detonar uma bomba, em meio à nossa esperança, em qualquer lugar, a qualquer momento. Quem esperaria que logo um instrutor de tiro fosse capaz de tamanha insanidade num país que tanto se orgulha de sua liberdade armamentista? A cada caso desses que acontece, longe ou perto, precisamos tirar dele a seguinte conclusão: é preciso estar sempre alerta, não adianta. Esses atos de insanidade nascem dentro de um mundo muito particular, no íntimo do indivíduo, e nem sempre permitem alertas e pistas de que irão acontecer. Situações aterradoras e praticamente impoliciáveis, como os crimes passionais – ainda que a passionalidade seja, a meu ver, na maioria dos casos o mero resultado de uma cultura errada, que uma educação de qualidade poderia reverter. Então, que se esteja atento. Que se tome todas as medidas de segurança que forem possíveis, sempre. Em grandes ou pequenas cidades. A loucura, meus amigos, é imprevisível.


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