As lições do admirável time do Fortaleza

As lições do admirável time do Fortaleza

Que o time do Fortaleza, sua trajetória e seu exemplo de perseverança nos inspirem todo dia. Se quisermos chegar em lugares melhores, se quisermos alcançar nossos sonhos, o negócio é não desistir. Mesmo que nada pareça dar certo hoje.

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O Internacional terminou o campeonato brasileiro de 2022 com duas vitórias de luxo. O Juventude, de forma melancólica. O Grêmio está voltando à série A, não sem dificuldades. O Brasil, meu Xavante, olha para a frente tentando mudar uma história nada feliz nos dois últimos anos. O Caxias, mais uma vez, bateu na trave para subir de divisão nacional. E o Ypiranga, no ano do seu melhor Gauchão, não repetiu os bons desempenhos na terceirona do país.

Falar sobre os times gaúchos, e seus altos e baixo, é impossível sem falarmos sobre o que há de errado com o futebol desigual daqui e tudo mais no, outrora, país do futebol. Entre injustiças, elitismos e o distanciamento do povão que este esporte cada vez mais promove no Brasil. Uma pena. Seria uma ótima ferramente para se enfrentar as drogas e a violência que seduzem e matm tantos jovens brasileiros. Falo isto desde antes da Copa do Mundo, quando se teve chance de usar o momento histórico para promover inclusão através do esporte. Mas não. Ao contrário, o distanciamento ficou ainda pior.

Então quero falar de lições positivas. Quero falar do que nos ensina o Fortaleza.

Por oito anos, o time da capital cearense sofreu na série C do brasileirão, com acessos batendo na trave para a B. Em 2015, naquele jogo memorável e heróico dos rubro-negros comandados por Rogerio Zimmerman - que hoje volta ao G. E. Brasil nesta tentativa de ressurreição para 2023 -, defesas épicas de Eduardo Martini num Castelão lotado e uma vitória simples no Bento Freitas deram aos xavantes o direito de subir à serie B. E o Fortaleza ficou nas oitavas-de-final. Por um gol do acesso. No ano seguinte, novamente o estádio lotado, e novamente um gaúcho roubava a cena: o Juventude voltava à série B - de onde cairia no ano seguinte, para voltar outra vez e iniciar sua trajetória de dois anos na A, de onde acaba de sair num ano especialmente infeliz.

Até que, finalmente, o Fortaleza subiu. Depois de oito anos tentando. Depois de tantas lágrimas da torcida em jogos decisivos onde parecia faltar tão pouco e ser tão possível. E, no ano do seu centenário, o Leão foi campeão da B e subiu para a elite, para fazer companhia ao seu principal rival, o Ceará.

Desde então, o Fortaleza acumula feitos incríveis. Nunca um nordestino ficou no G4 do brasileirão. Nunca um nordestino conseguiu se classificar para duas Libertadores consecutivas. Este ano, na virada do turno, o Fortaleza estava rebaixado e visitou, inclusive, a lanterna. Não desistiu, não trocou treinador, e fez um returno excelente, ficando no G8 e se classificando para a Libertadores. Era a primeira vez que um time que estaria rebaixado no primeiro turno reverte de forma tão incrível sua situação no campeonato.

Cada festa no Castelão promovida pelo clube e pela torcida é um espetáculo que nada devem em beleza às aberturas de jogos olímpicos e outros eventos semelhantes. Com a diferença da vibração apaixonada dos presentes.

O cearense é um povo sofrido. Um povo que tinha o costume de tentar a vida em outros estados de natureza mais favorável, e com menos exploração de mão-de-obra escrava no meio rural, e agora faz mo movimento inverso, retornando ao seu estado. Mas a lição que o time do Fortaleza traz consigo, é a da persistência, da paixão mesmo na adversidade, na fidelidade que só nossos torcedores do interior, como os xavantes e outros tantos, sabem como é, quando precisam acompanhar seus times em campeonaotos desiguais e com distribuição de renda desfavorável. O Fortaleza está lá, agora, beliscando com justiça e merecimento a grande bolada que só os de sempre eram acostumados a dividir.

Que o time do Fortaleza, sua trajetória e seu exemplo de perseverança nos inspirem todo dia. Se quisermos chegar em lugares melhores, se quisermos alcançar nossos sonhos, o negócio é não desistir. Mesmo que nada pareça dar certo hoje. Como alguém disse certa feita, prosseguir é como andar num carro: a visão do para-brisa é enorme, a do respelho retrovisor é infinitamente melhor. Então, não adianta seguir reclamando pelo que deu errado ontem. O negócio é mirar adiante e seguir. E insistir. Que, uma hora, dá certo.

 


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