Bailando na Chuva
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Primeiro, tenha sempre seu barco inflável no bolso. Nunca se sabe. Vai que chove uns cinco minutos e o conduto não dá conta – que condutos e contas são palavras que, sei lá, não se bicam. Quem tiver carro, é bom trocar o airbag por botes ou coletes salva-vidas. Podem ser mais úteis em dias de alagamento. Uma montadora de veículos anunciou que estuda lançar um carro-bóia. Com a linha bóia-cross especial para moradores da zona norte de Porto Alegre. Lá não tem rio, mas tem enchente. Quem não tiver carro, nem barco, nem bóia, o manual recomenda adquirir pernas-de-pau. Mas não as tipo "zaga do Inter", que essas não resistem a Paysandus e ABCs. Imagine superar nossos alagamentos. Nem com D"Ale o milagre acontece.
Se perceber mais de três pingos em série, é bom evitar o centro. E os bairros. E as zonas rurais. Enfim, se puder dar um passeio noutra cidade, não é má ideia. Desde que seja virtual. Criar camelos no pátio, em vez de cães, também está no manual. Pelo menos, eles sempre podem beber a água da enxurrada. Sem esquecer as calçadas impermeáveis tipo esponjão. E, claro, instalar uma guarita de salva-vidas em cada esquina. Além de outras iniciativas preventivas, depois de tudo passar, visando o próximo alagamento - que virá, com certeza virá. Tipo workshop com habitantes de Veneza, que nos contem sobre isso de viver com os pés molhados sem parar no AA ou criar chulé. E pesquisar técnicas orientais que consigam equilibrar mente, corpo e alagamento (sempre fedorento).
O manual encerra indicando cursos de mergulho. Confesso que me decepcionei um pouco com este manual de sobrevivência nas cheias. É que quando eu vejo sofás, garrafas pet, lixos brotando aos borbotões dos bueiros que deveriam dar vazão ás águas, sei lá, eu penso que há quem goste disso. De bailar na chuva. Mas no pior sentido possível.