Caso Kiss: das lições às decepções

Caso Kiss: das lições às decepções

O sentimento de frustração e impunidade sentido pelos familiares das vítimas dessa tragédia sem igual, claro, é mais do que compreensível. É como deixar perguntas essenciais com respostas evazivas. É como considerar que um papel qualquer vale mais que uma vida.

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O Brasil é um paraíso para defensores de culpados e inocentes. Um emaranhado de legislações contraditórias, sempre proporcionando um escape qualquer, um volteio possível, uma nova e surpreendente saída para o que parecia óbvio. Regras sobre regras para normatizar - e complicar - o que poderia (deveria) ser objetivo. E parece até estranho, pois isto acontece numa sociedade que flerta, em seu cotidiano, com a cultura do jeitinho e do "só vale para o outro, não para mim" em tudo. Da fila do caixa prioritário no mercado ao nosso caótico (porque o tornamos assim) trânsito.

Não é justo, nem lógico. Tudo o que envolve esse ente chamado "estado", seja lá em qual poder for, deveria respeitar e primar pela vontade coletiva, pelo bem-estar do cidadão, pela garantia de que uma sociedade organizada pode existir. Afinal, o estado e seus três poderes só existem graças ao suor do povo que trabalha e paga, todos os dias, a todo instante, para que ele (estado) exista. E exista para ele, povo. Por ele.

Então tudo o que acontece, todo o show de irresponsabilidade e descaso com a vida de tantos jovens, todo egoísmo criminoso que gerou essa tragédia inesquecível, é menos importante do que detalhes burocráticos? Da demora até a invalidação. E começa tudo de novo, como se fosse nada.

Como se as vítimas fossem nada?

As famílias não podem esmorecer. Não podem desistir. Há que existir justiça, na plena concepção da palavra. Nem que se leve uma vida inteira para chegar nisso.

A vida que foi negada, ceifada de tantos jovens por conta de irresponsabilidades criminosas em série.

A tragédia da Kiss nos deixou lições. Mas, espie por aí como andam as "baladas": as lições praticamente estão sendo todas esquecidas, ignoradas, apagadas. E a frustração, o sentimento de impunidade, é uma maquiagem teimosa contra marcas que não nos deixarão jamais. Que bom que temos a imprensa sempre atenta para manter viva essa história. Para exigirmos justiça. E um ponto final nessa história terrível. A memória das vítimas merece.
 


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