Daqui a pouco, terá neve no Natal de Porto Alegre

Daqui a pouco, terá neve no Natal de Porto Alegre

De 1972 a 2022, 50 anos debantendo clima. E o que mudou, de verdade? O clima segue em franco desequilíbrio, as indústrias gigantes do planeta pouco ou nada fazem para mudar sua ótica imediatista de lucros acelerados. E os gestores das nações, talvez patrocinados por estas indústrias, não parecem muito dispostos a mudar algo de verdade. Cinquenta anos não é tempo demais para não sair do mesmo lugar? Aliás, pior ainda, para conseguir retroceder quando se precisa avançar?

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Pode ser que seja uma traição da memória. Nossas recordações de infância, volta e meia, nos pregam algumas peças. Eu sempre acreditei que a nossa primeira “frigidaire” da General Motors, vermelha igual ao fusca da minha tia e que gostava de me pregar peças dando choque na maçaneta metálica, tinha uns dois metros de altura. Mas, sei lá, me parecia que naqueles tempos era tudo muito definido, no clima. Inverno era inverno e era frio. Verão, era quente. Temporal, daqueles feio de se ver, acontecia, mas lá de vez em quando. Era algo meio trágico, um acontecimento para se comentar nas rodas de famíla por um bom tempo.

Agora anda tudo assim. A qualquer momento, o tempo fecha e destelha casas, inunda bairros, derruba árvores, mata, altera tudo. Estamos em novembro e, ano passado, já sofríamos com o calorão. Hoje, está frio. No meio do inverno, tivemos calores que não tinham explicação. Já ano passado, neve que só vendo. Cada ano, tudo acontece de forma totalmente diferente e o desequilíbrio é visível.

Lembro meu pai reclamando (ele, como eu, nunca foi fã do calor intenso): “Tchê, tá insuportável, o troço. Deve estar uns trinta graus!”. E caprichava naquela sílaba rotuinda, “triinnn” para dar ênfase ao absurdo. E quando a Fernanda Abreu surgiu cantando “Rio 40 graus” eu ficava pensando que não devia ser fácil, a vida dos cariocas. Por isso eles eram daquele jeito. Diferentes.

Hoje, a temperatura passar dos 40 graus por aqui, no verão, não é nem novidade mais.

Começou mais uma Conferência do Clima promovida pela ONU. A COP27 reúne representantes oficiais dos governos e da sociedade civil e se dispoõe a debater as mudanças climáticas, seus efeitos e o que pode ser feito.

 Só que assim, né. São anos e anos de blábláblá e nada muda. Só piora.

A primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano ocorreu em junho de 1972, em Estocolmo. Reuniu 113 países. Foi o primeiro grande encontro internacional com representantes de diversas nações para discutir os problemas ambientais. Publicaram a Declaração de Estocolmo, com 26 princípios e a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Em 1979, na Suíça, A Primeira Conferência Mundial do Clima (WCC-1) foi convocada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), como “uma conferência mundial de especialistas em clima e humanidade”. 

Veio a ECO 92, no Rio. O Protocolo de Kyoto, em 97, a COP-3. A COP-21 e o Acordo de Paris, em 2015, com 195 países, firmes no propósito de  manter a temperatura média da Terra abaixo de 2 °C, acima dos níveis pré-industriais, além de esforços para limitar o aumento da temperatura até 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.

De 1972 a 2022, 50 anos debantendo clima. E o que mudou, de verdade? O clima segue em franco desequilíbrio, as indústrias gigantes do planeta pouco ou nada fazem para mudar sua ótica imediatista de lucros acelerados. E os gestores das nações, talvez patrocinados por estas indústrias, não parecem muito dispostos a mudar algo de verdade. Cinquenta anos não é tempo demais para não sair do mesmo lugar? Aliás, pior ainda, para conseguir retroceder quando se precisa avançar?

Porque, francamente, não nos parece que basta uma simples tomada de decisão, entre a vida e a morte?

Pois é. Hora dessas, vai mesmo nevar no verão de Porto Alegre, como o Natal das propagandas. Problema é se antes, ou depois, não haverá um calor de incendiar meia cidade.

 


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