Do silêncio que nos faz falta

Do silêncio que nos faz falta

publicidade

Eu preciso do silêncio em doses homeopáticas. Melhor, em doses generosas. Preciso encontrar um nada e nele me esconder, fugir das vozes, das perguntas, dos julgamentos, das piadas, das polêmicas. Principalmente das polêmicas.

Talvez as coisas andem tão difíceis de serem corrigidas porque ninguém mais para pra pensar.

Vem tudo atropelado, apaixonado, visceral, confuso. E, o pior: superficial.

O silêncio nos permite estudar. Perceber. Observar, tentar entender, enxergar todos os ângulos, captar o essencial e o invisível, o intrínseco, o não dito. Buscar o conhecimento, se aprofundar, saber de fato do que se fala. Como posso julgar o oceano se apenas olho rapidamente para a superfície onde navego? Como posso descrever o céu apenas pela sua aparente cor azul?

Muitos falam. O que é democraticamente louvável, já houve tempos de breu onde era proibido se manifestar, e tomara que jamais isso aconteça de novo. Na verdade, acho impossível que voltem as ditaduras. Mas o ser humano tem maldade suficiente para retornar ao irretornável.

Mas até com a liberdade é preciso saber lidar. Existe algo que chamamos de educação. De respeito.

Espie as redes sociais. Apenas brigas, argumentos sem qualquer profundidade, baboseiras gritantes, tudo apenas com o vigor dos fanatismos. Só. A moda é ficar de um lado e radicalizar.

Espie as festas dos jovens. As festas populares. As tribunas políticas. As ruas.

Agressões em avalanche. Gratuitas.

E não se chega a lugar nenhum. Tudo se deteriora.

Há momentos em que precisamos de silêncio. Precisamos do olhar. E ver o todo, lá fora e aqui dentro. Precisamos apenas parar para respirar fundo e ver que há algo mais, sim, muito mais.

Há momentos que precisamos de um silêncio permeado de música e poesia, um silêncio que não se cala, mas nos abriga. E nos entende. E nos refugia. Salva.

Eu ando tendo um caso de amor com o silêncio, confesso.

Pensa que ele está sempre muito ocupado.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895