Fábrica de Gaiteiros e Cidadãos

Fábrica de Gaiteiros e Cidadãos

Quando vemos a enormidade de jovens que ingressam no mundo das drogas, do crime e da violência, percebemos o elevado número destes que, infelizmente, erraram a estrada apenas por procurar, sem saber por onde, um lugar ao sol, uma chance de serem vistos, respeitados, considerados. As fábricas de música, cultura e de esportes tiram a meninada dessa funesta fábrica de bandidos. Tomara que os gestores públicos um dia saibam reconhecer isto e, acima de tudo, fomentar mais os únicos caminhos que temos para chamar a garotada para o bem.

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Ontem à noite, no ParkShopping Canoas, o público pode conferir mais uma apresentação da Fábrica de Gaiteiros com Renato Borghetti. A Fábrica de Gaiteiros é um projeto que ensina a garotada, entre 7 e 15 anos, a tocar nossa conhecida “gaita de oito baixos”. Eu estava lá, com a família, porque meu filho João Ernesto, de 09 anos, toca com eles.

Foi um espetáculo de alto nível. Borghettinho alia o seu talento e a sua fama internacional - com quem já no seu álbum de estreia, em 1984, faturou o primeiro disco de outro da música instrumental brasileira - com essa generosidade típica dos grandes. Porque a Fábrica de Gaiteiros é totalmente gratuita.

O projeto atualmente acontece nos municípios gaúchos de Guaíba, Barra do Ribeiro, Porto Alegre, Butiá, Dom Pedrito, Tapes, São Gabriel, Dom Feliciano, Lagoa Vermelha, Piratini, Santo Antônio da Patrulha, Morrinhos do Sul e Encruzilhada do Sul; e em Santa Catarina nas cidades de Lages e Blumenau, com a participação de centenas de crianças e adolescentes.

Meu filho, que ganhou a gaita da minha mãe, já é chamado no colégio de “Joãzinho Gaiteiro”. Ele adora ser conhecido assim. E isso é um dos aspectos que me chama mais a atenção neste projeto fantástico. Primeiro, a disponibilidade dos professores, todos músicos talentosos e renomados, e do próprio Borghetti, que com sua simplicidade dá uma aula de cidadania aos pequenos. Outra, é este carinho na auto-estima que a meninada experimenta.

Identidade. Auto-estima. Poder já ser alguém visto no seu meio social, escolar e familiar. Como isto é importante!

Quando vemos a enormidade de jovens que ingressam no mundo das drogas, do crime e da violência, percebemos o elevado número destes que, infelizmente, erraram a estrada apenas por procurar, sem saber por onde, um lugar ao sol, uma chance de serem vistos, respeitados, considerados. Porque quando nós, sociedade, negamos isto às novas gerações, os espertalhões do crime oferecem. Quando nós negamos o diálogo e a valorização do ser humano, os bandidos do tráfico oferecem. Tudo mentira, mas quando eles se dão conta disso - quando se dão conta -, já é tarde demais. E a vida foi jogada fora. As chances de mais um grãozinho de areia pavimentando um país melhor, também.

As fábricas de música, cultura e de esportes tiram a meninada dessa funesta fábrica de bandidos. Tomara que os gestores públicos um dia saibam reconhecer isto e, acima de tudo, fomentar mais os únicos caminhos que temos para chamar a garotada para o bem. Como os de Borghetti e seus professores.


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