Fraudes e a velha filosofia do "mamar deitado"

Fraudes e a velha filosofia do "mamar deitado"

Operação "Falsa Chancela", da PF, é só mais um recorte de algo que se torna cada vez mais comum no país: fraudar.

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Havia uma música, quando eu era jovem, que dizia no refrão "eles pensam que sou bobo/ levo tudo controlado/ dependendo da ocasião/ eu até banco o bobão/ e me faço de leitão/ pra poder mamar deitado". "Mamar deitado" era um dito campeiro que meu parentes lá no Vapor Velho usavam, quando um sujeito queria tirar alguma vantagem, digamos que meio indevida, de alguma situação. Mas o Paulo Mendes pode explicar essa expressão melhor do que eu.

Quem cantava era o Sidney Lima, que morreu tragicamente em 1989, numa ocorrência de trânsito.

Meu falecido pai costumava dizer que o mal do brasileiro era querer mamar deitado em todas as situações. O tal jeitinho, que para uns era apenas aquela velha e boa malandragem, mas para outros era burlar mesmo o sistema. Ou os sistemas.

A Operação "Falsa Chancela", da PF, noticiada, aqui, mosxtram só mais um caso onde a vontade de se dar bem extrapola limites e gera prejuízos bárbaros. Uma pequena parcela se beneficia, uma parcela menor ainda lucra com a ilegalidade e, a grande maioria, nem se dá conta, mas paga a conta. Que é sempre salgada. 

Para se ter uma ideia do jeito que andam as coisas, no Brasil estão acontecendo quase 3 mil tentativas de fraudes por minuto em meios eletrônicos. A maioria delas em horário comercial. E a maioria das vítimas são aposentados, pensionistas, assalariados, gente que precisa. Gente que sua em bicas para sobreviver neste país de economia estranha e pesada.

É muito golpista querendo mamar deitado. E, sem se dar conta, talvez nem estejamos nos dando conta de quantas vezes, ainda que instintivamente, mesmo na tentativa de ganhar alguma pequena vantagem com pouco esforço, ao nos acharmos espertos estamos apenas alimentando essa indústria de fraudes.
 

 


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