Inteligência Artificial, crimes naturais

Inteligência Artificial, crimes naturais

Oscar Bessi

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elebridades, personalidades importantes, estudantes menores de idade. As vítimas são diversas e o conteúdo, claro, sempre nocivo. São nudes, situações constrangedoras, golpes dos mais variados. A Inteligência Artificial é uma das inovações tecnológicas mais badaladas do momento e chegou para revolucionar a ciência e instrumentalizar a humanidade. Mas, como tudo o que se inventa, já conseguiu extrapolar limites e se tornou arma nas mãos de delinquentes. A indústria das fraudes é um dos tentáculos criminosos que mais cresce no mundo e se espalha pelos segmentos mais imprevistos. Neste ponto, as tecnologias, e fundamentalmente a inteligência artificial, infelizmente estão tornando esses golpes cada vez mais sofisticados e difíceis de combater. Até porque o comportamento seguro, no mundo virtual, é definido por uma linha tênue que nunca se sabe quando é cruzada. E a sofisticação tem tornado essas arapucas cada vez mais imperceptíveis. Até para quem costuma ter cautela. As exigências deste novo mundo acelerado, instantâneo e tecnológico também favorecem.

Aqui no país, os brasileiros sofrem quase 3 mil tentativas de golpes financeiros através de meios eletrônicos por minuto. Sim, eu disse por minuto! O que dá em torno de 180 mil tentativas de fraudes por hora e mais de quatro milhões por dia. Quantos caem? Não há como saber. Muitos, por vergonha, ou pela natureza da ação, nem tomam providências. Com a Inteligência Artificial, até mesmo reconhecimentos faciais e provas de voz estão se tornando medidas obsoletas de segurança. O alerta mundial foi acionado quando um caso ocorrido na China, em junho deste ano, chamou a atenção dos especialistas. Bandidos usaram a “Deep Fake”, tecnologia que não é tão nova, mas que com a Inteligência Artificial se aprimorou muito, e clonaram rostos de vítimas para aplicar golpes on-line. O prejuízo, em reais, foi de mais de três milhões em pouco tempo. O alerta ainda não serviu para muita coisa, na prática. Prova disto é o caso dos falsos nudes de estudantes menores de idade, no Rio de Janeiro. Fato que já repetiu numa escola de Recife há poucos dias. E também aconteceu em Nova Jersey (EUA). Daqui pra frente, podem esperar, serão milhares de novos casos.

É claro, a legislação brasileira ainda não está preparada para punir esse tipo de crime. Há que se entender bem o fenômeno primeiro e isto não é simples. Já temos a “fraude eletrônica”, que dá cadeia de 4 a 8 anos ao autor, mas o uso de Inteligência Artificial vai muito além de uma mera fraude. Mas há que se criar legislação específica, para não se depender de interpretações subjetivas caso a cada caso, na busca de um enquadramento em outros crimes tratados de forma muito branda pela lei, como difamação, calúnia ou estelionato. Seria ótimo se nossos ilustres congressistas deixassem um pouco de lado suas barganhas políticas movidas pelo PIP (partido do interesse próprio) e olhassem com a devida atenção, e para ontem, o que já está acontecendo. Ou se estuda a fundo o que está acontecendo e o que pode acontecer, e se coloca limite, ou será o caos. A comunidade internacional também precisa regular este tema, afinal, até crimes de guerra estão sendo manipulados pela inteligência artificial. O assunto é sério. Afinal a evolução, para que seja uma evolução de fato, precisa estar ao lado da humanidade, não contra ela.


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