Mulheres: muito a evoluir

Mulheres: muito a evoluir

Oscar Bessi

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Muito interessante a campanha do “Força Feminina Montenegro”, às vésperas do feriadão mais festivo do país. “Folia sim, assédio não”, pedem as integrantes do grupo. Todas as mulheres ativas, inquietas e engajadas nas lutas por respeito, dignidade e igualdade em todos os sentidos. Aliás, esta semana tanto elas quanto milhares de outras vozes, no país e no mundo, gritaram sua indignação pelo caso de feminicídio, no RS, cujo assassino foi liberado após ter sido levado para uma delegacia pela Brigada Militar justamente pelas denúncias de agressão à companheira. Todos querem saber o que aconteceu. O não cumprimento da Lei Maria da Penha, por uma parte integrante do sistema de proteção, pode condenar à morte uma mulher, e ao orfanato os seus filhos. Neste caso, tínhamos uma mãe de quatro filhos, grávida de um quinto, que segundo consta não queria denunciar o marido, só o fez por pressão dos vizinhos frente às repetidas agressões sofridas por ela. Que tudo seja muito bem avaliado e de forma justa. 

Todos sabemos que a questão cultural ainda é difícil de vencer, entre elas a dependência dessas mulheres, ou o temor da independência e suas dificuldades financeiras, levando muitas delas, vítimas, a considerar que a pior saída é denunciar seus companheiros. Milênios de uma sociedade patriarcal e machista não é algo que se mude, de fato, em poucos anos e só com legislação. Porém, lei é lei e está aí para ser levada a sério e cumprida com rigor. Aí entra outro problema histórico do nosso país: não temos estruturas públicas suficientes para isto. Nem para promover reeducação ou reinclusão social de presos, para diferenciar o grande bandido mafioso do ladrão ocasional, muito menos para proteger crianças, idosos ou mulheres vítimas de violência. A esmagadora maioria dos municípios cruza os braços e finge que o problema é só da Polícia, sem cumprir seu papel na estruturação de redes de proteção adequadas. Uma bela exceção, entre outras, é o projeto “Guarda-chuva”, da prefeitura de Marau. Uma iniciativa em várias frentes que dá até selo de responsabilidade social às empresas locais engajadas no projeto. 

Ainda no que tange à mulher, mas agora sobre o assédio na folia, temos outra bizarrice histórica. Desde menino vejo nosso país promover o carnaval como uma festa relacionada diretamente ao descontrole, ao sexo sem regras, ao exagero nos vícios e, principalmente, à simbologia da mulher como nada além de uma coisa consumível e parte da festança. Mulher vira bumbum, rebolado e corpo (quase, às vezes) nu. Há um turismo sexual organizado, predatório e triste. Mas lucrativo. E, como no caso da vítima de agressão que não sabe o quanto se condena, aceitando a situação que vive por medo de não conseguir outra vida, por ela ou por seus filhos, talvez a esmagadora maioria das mulheres que toma parte nas folias de carnaval nem se dê conta do quanto colabora para que o seu papel de objeto, na mão dos homens, se perpetue e diminua sua importância. Sua chance de mudar o jogo. De reverter papéis, garantir dignidade e espaço ativo. Não é à toa que a ONU estima que, neste nosso ritmo atual, a igualdade de gêneros talvez só seja conquistada daqui a uns 300 anos. E olhe lá. Há um trabalho gigante de educação e respeito a ser construído.


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